A história do heavy metal aterra de novo em Lisboa
Com o espetáculo de hoje à noite, já são 18 os concertos dos Iron Maiden em Portugal, o que atesta bem a popularidade da banda britânica junto dos fãs nacionais. É certo que, enquanto cultura musical, o heavy metal é um dos mais militantes do universo rock, mas os Iron Maiden estão hoje muito para além de qualquer fronteira estética ou estilística.
A razão da visita é o mais recente álbum, The Book of Souls, mas como sempre acontece num concerto dos Iron Maiden, haverá também tempo para o resto - e o resto é só uma das mais gloriosas páginas da história do rock -, como o próprio vocalista já prometeu, numa mensagem aos fãs nacionais: "Vai ser fantástico reencontrarmo-nos com vocês. Estamos ansiosos por tocar as músicas novas, mas como já foi há algum tempo que nos vimos pela última vez, vamos também tocar as mais antigas".
Porque é de história que se trata, quando se fala desde grupo, surgido ainda em meados dos anos 70, no dealbar do punk e quando o heavy metal, enquanto estilo, se encontrava em franca decadência. Mas os pioneiros da que ficou conhecida como a "new wave of British heavy metal" inverteram a tendência da história. Depois de alguns anos a percorrerem o circuito dos clubes londrinos, onde começaram a conquistar uma fiel legião de fãs - e após diversas mudanças na formação da banda -, conseguiram finalmente um contrato com a EMI em 1979, numa época em que o vocalista era Paul Di"Anno, um cantor influenciado pelo punk, que permitiu à banda fundir os dois estilos, como era desejo da editora, que pressionava a banda para renegar ao heavy metal mais clássico.
O resultado foi a criação de um estilo novo de metal, mais rápido e direto, que nos anos seguintes haveria de se tornar na marca de água da banda, misturando os ritmos clássicos do metal com empolgantes riffs de guitarra.
O primeiro disco, homónimo, só surgiria no ano de 1980 e foi desde logo um sucesso, tanto comercial como junto da crítica, abrindo-lhe de vez os maiores palcos do metal, lado a lado com bandas como Kiss ou Judas Priest. Apenas um ano depois, seguir-se-ia o álbum Killers, o primeiro a contar com o guitarrista Adrian Smith e o último no qual participou o vocalista Paul Di"anno, demitido devido à sua adição às drogas duras.
Para o seu lugar seria convidado Bruce Dickinson, cuja voz se tornaria numa das maiores imagens de marca da banda, como se provou logo no seu álbum de estreia, The Number of the Beast, ainda hoje o mais bem-sucedido da banda, com mais de dezasseis milhões de cópias vendidas em todo o mundo e à boleia de clássicos como The Number of the Beast e Run to the Hills, desde então presentes em todos os concertos dos Iron Maiden.
Como faz parte da tradição, a banda não se livrou de polémicas, devido ao título do álbum, sendo acusada por alguns grupos religiosos de fomentar o satanismo, se bem que a explicação para tal é bem mais prosaica: a canção foi inspirada num pesadelo que o baixista Steve Harris teve, após ver um filme de terror...
À conquista do mundo
Foi assim já com estatuto de verdadeiras estrelas que os Iron Maiden cimentaram a sua posição no firmamento do rock, com álbuns como Piece of Mind (1983), Powerslave (1984), Somewhere in Time (1986) ou Seventh Son of a Seventh Son (1988), que incluem alguns dos temas mais conhecidos do grupo, também eles sempre presentes nos alinhamentos dos concertos.
Com o tempo, afastaram-se cada vez mais do estilo original de rock direto, assumindo um certo experimentalismo, cujo auge foi o álbum No Prayer for the Dying, editado em 1990, perante algumas críticas dos fãs, numa mistura de sentimentos acentuada ainda mais dois anos depois, com Fear of the Dark. E, se hoje, este disco é unanimemente considerado um dos mais injustiçados da carreira da banda, à época ficou também para a história por ter sido o último a contar com a presença do carismático vocalista Bruce Dickinson, entretanto substituído por Blaze Bayley até 1999.
Apesar do estatuto e da história da banda, os anos 90 foram penosos para os Iron Maiden. Mas quando a decadência parecia inevitável, o regresso de Bruce Dickinson e do guitarrista Adrian Smith deram um novo rumo à história, numa altura em que toda uma nova geração de fãs começava a conhecer a obra da banda. Dance of Death, o álbum de 2003, seria de novo recebido com loas da crítica e dos fãs, a exemplo do que aconteceu depois com A Matter of Life and Death (2006), The Final Frontier (2013) e o último The Book of Souls, editado o ano passado e que chegou ao primeiro lugar do top de vendas em 25 países, incluindo Portugal. É este disco que agora trazem na bagagem do Ed Force One, o célebre avião da banda, que sob os comandos do próprio vocalista Bruce Dickinson (sim, também é piloto) volta agora a aterrar em Portugal.