A "cidade ideal" que esteve à beira de ser demolida
Um enorme complexo habitacional às portas de Amesterdão, anos 60. Vistos de cima, os prédios do Kleiburg formam uma espécie de favos de abelha em betão. O empreendimento, da autoria do arquiteto holandês Fop Ottenhof (1906-1868), tinha como missão dar melhores casas a quem habitava em zonas degradadas da cidade. "Foi construído como a cidade ideal, como a cidade do futuro", diz Jan van Grunsven, um dos seus atuais habitantes.
Com o passar dos anos, desta enorme estrutura, construída como a utopia da cidade ideal, restava uma uma serpente de betão com 400 metros de comprimento e dez andares, com 500 apartamentos. Tudo o resto havia sido demolido e este edifício, devoluto, arriscava o mesmo destino. A empresa proprietária dizia que a reabilitação era demasiado cara: custava 70 milhões de euros.
Em 2011 que os cidadãos e o governo local se organizaram, surgiu a polémica e o debate. O bloco de betão resistente era o único que mantinha as suas características originais, inspiradas pelo Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, um grupo criado nos anos 20 para resolver os problemas sociais através da arquitetura que incluía, entre outros, Le Corbusier.
Após acesa polémica, a empresa acabou por vender o Kleiburg por um euro. Foi então lançado um concurso de ideias para promover um plano economicamente viável destinado a reabilitar o complexo. Concorreram 50 projetos, ganhou o dos ateliers NL architects e e XVW architectur.
O projeto do coletivo de arquitetos holandeses contempla uma nova forma de construir e habitar: as casas são modulares, não têm casa de banho nem cozinha, podem ser compradas a preços mais baixos e o proprietário faz os acabamentos a seu gosto. Ao entregarem o edifício em bruto, apenas com os pilares e as paredes estruturais dos futuros apartamentos, os arquitetos oferecem ainda a possibilidade de os moradores escolherem quantas assoalhadas querem e se querem desenvolver a habitação na horizontal, na vertical ou mista.
Paul Vanderberg mostra a casa onde habita, com aspeto acolhedor, e conta como foi quando visitou o local pela primeira vez em 2013: "Parecia o caos e a guerra".
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"Só fizemos a parte comum do edifício e alterámos algumas características que o edifício tinha", refere Xander Vermeulen, um dos arquitetos do coletivo, que agora ganhou o prémio Mies van der Rohe. Entre as alterações, a colocação dos elevadores no exterior ("que exploram a verticalidade linda da estrutura") e a retirada das garagens e arrumos ao nível do rés do chão, permitindo criar ali habitação e abrir maiores zonas de circulação exteriores. O resultado é um edifício agora habitado, enquadrado com espaços exteriores, como jardins, lago e parque infantil.
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