A caça à Palma de Ouro já abriu. Perfilam-se os suspeitos do costume
É costume dizer-se que os grandes festivais de cinema têm filmes para todos os gostos. Com Cannes não é bem verdade. A seleção oficial, ontem foi divulgada pelo seu diretor Thierry Frémaux, não deixa muitas dúvidas: aquele é o gosto dele e da sua equipa. Um cinema de autores consagrados que funciona como uma espécie de clube privado dos "protegidos". Ainda assim, têm de caber lá os nomes dos cineastas mais reconhecidos. Feliz é o festival que tem habitués como Pedro Almodóvar, Sean Penn, Ken Loach, Xavier Dolan ou Jim Jarmuch.
Depois de ter sido anunciado o filme de abertura, a comédia anual habitual de Woody Allen, Café Society, ficou a saber-se no que consta a caça à Palma de Ouro nesta 69.ª edição.
Paul Verhoeven, Olivier Assayas, Bruno Dumont, os irmãos Dardenne e Andrea Arnold são outros dos grandes nomes que podemos imaginar a receber o troféu. Numa seleção sem surpresas, confirmou-se a estreia do pernambucano Kléber Mendonça Filho, na competição oficial. Aquarius, com Sónia Braga, é o filme que devolve Cannes ao Brasil (há muito que não tínhamos cinema brasileiro na Croisette) e que talvez tenha impossibilitado a escolha de outro dos filmes que se falava: O Grande Circo Místico, de Cácá Diegues.
Do contingente americano destaque para Sean Penn, com The Last Face, onde filmava a sua ex-companheira, Charlize Theron, e Loving, o novo de Jeff Nichols, acabadinho de ter impressionado na última Berlinale com Midnight Special. Contudo, há um cineasta que espanta por ter dois filmes: Jim Jarmush. Além de Paterson, o autor de Só os Amantes Sobrevivem apresenta na secção Projeções da Meia-Noite Gimme Danger, um documentário sobre os The Stooges.
Hollywood só fora de comeptição
Será preciso irmos até aos filmes fora-de-competição para espreitar Hollywood e aí a grande expectativa para ver o que Spielberg faz com o universo do escritor infantil Roald Dahl em O Amigo Gigante. Também curiosidade grande para o thriller Money Monster, de Jodie Foster, com George Clooney e Julia Roberts e Bons Rapazes, de Shane Black, com Russell Crowe e Ryan Gosling.
Nesse sentido, de notar as ausências de Damian Chazelle com La La Land e À Procura de Dory, a última aposta da Pixar. Veneza fica assim com espaço para o filme de Chazelle e também os novos de Pablo Larrain (Jackie); Oliver Stone (Snowden), Ben Wheatley (Freefire) e Marco Bellochio (Sweet Dreams).
O contingente francês tem a surpresa da não inclusão do novo de Bertrand Bonello, Paris is Happening e de Les Beaux Jours d"Aranjuez, de Wim Wenders, com a produção de Paulo Branco, mas promete candidatos fortes: Bruno Dumont com a comédia Ma Loute; Nicole Garcia com Mal de Pierres, Olivier Assayas com Personal Shopper, de novo com Kristin Stewart e Alain Guiraudie com Rester Vertical.
No Um Certo Olhar, secção paralela, há um nome que se destaca, o japonês Hirokazu Kore-eda, que apresenta After The Storm, depois de no ano passado ter estado em competição com Notre Petite Soeur (parece até que foi despromovido...). Mas o grande filme mediático será Captain Fantastic (já apresentado em Sundance com uma certa aura de simpatia), de Matt Ross com Viggo Mortensen com uma interpretação que se diz para a temporada dos prémios, ainda que se depositem esperanças francas em La Danseuse, de Stéphanie Di Giusto, com Lily-Rose Melody Depp, a filha de Johnny Depp.
Um Albert Serra meio português
É um filme muito preciso e arriscado. Foi um prazer trabalhar com o Jean-Pierre Léaud. Tem sido muito bom trabalhar em Portugal com a Rosa Filmes. Já estou cá há três meses!". É assim que o realizador Albert Serra fala da experiência da coprodução com a portuguesa Rosa Filmes para A Morte de Luís XIV, selecionado para a secção Projeções Especiais, parte da Seleção Oficial, única obra com o selo de Portugal em Cannes.
O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues, pode ainda ser anunciado na Quinzena.