«O Salgueiros ficou apenas com a alma»

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O Salgueiros está sem estádio, sem equipa... O que sobrou?

Sobrou-lhe a alma, os seus adeptos.

E é possível gerir um clube só com alma?

É, é. Não se pode comparar o Salgueiros com outros clubes que passaram por processos destes, como o Farense, Famalicão, Tirsense, Leça... Porque a nível humano o Salgueiros ultrapassa qualquer deles. O mal do Salgueiros nunca foi querer ter equipas e não ter dinheiro para as pagar. O mal foi ter dinheiro e não as pagar. O Salgueiros tinha o bingo, o Linhares em nove anos vendeu 13 jogadores aos grandes (nomes como Sá Pinto, Nelson, Pedrosa, Edmilson, Deco, Nandi- nho, Luís Carlos...).

Este abismo é exclusiva responsabilidade de José António Linhares?

Não. É dos sócios. Principalmente. O Linhares tem o dom da palavra e os sócios deram-lhe sempre o poder todo. Para negociar os terrenos, para vender o estádio...

E vocês foram oposição nessa altura?

Sempre. Votámos sempre contra. Fomos os únicos a fazê-lo na As- sembleia Geral. Os outros sócios só lhes interessava que íamos ganhar ao Benfica e ao FC Porto, estávamos na I divisão... Quando começámos a cair de divisão, começaram a abrir os olhos.

A claque sempre teve essa preocupação de marcar presença nas AG?

Sempre, sempre... A nossa claque é diferente das outras, porque além de irmos para o estádio apoiar o clube, também somos uma voz activa no clube. Não é oposição... criticamos quem tiver de ser criticado. Até os jogadores.

As claques devem ser uma consciência crítica nos clubes?

Exactamente... Mas não é a claque enquanto claque. É que nós acima de tudo somos sócios do Salgueiros e amamos o clube. Primeiro está o Salgueiros e depois a claque.

Como era a relação com Linhares?

Muito aberta. O que tínhamos a dizer dizíamos, o que tínhamos a criticar criticávamos. No último jogo, quando descemos, levámos pano a dizer «a direcção critica-se na AG, não na tasca ou na bancada».

Aproveitam os jogos para fazer campanha?

A nossa campanha é puxar pelo clube. Mas pusemos no último jogo uma faixa a dizer «Procurações não», porque sabemos que as eleições vão ser viciadas.

Porque é que dizem isso?

Acontece há vários anos, pessoas que nem sabem de que cor é o Salgueiros e que são sócios só para irem votar nas eleições. Votar, não... passar procurações. Conhe- ço várias pessoas assim, principalmente homens da noite.

As eleições não vão ser verdadeiras?

Não... Mas peço a todos os sócios que vão votar. Se forem, as procurações não ganham aos sócios.

Qual deve ser futuro do Salgueiros?

Vamos ter que começar do zero. As pessoas da lista A [Cunha Gomes] querem cometer o mesmo erro que se cometeu. Prometem já o estádio e voltar a investir, querem começar por cima, sem alicerces. E depois quando vem abaixo o tombo é muito grande. Viu-se agora, que estávamos na I e já estamos na IIB prestes a cair para a III, sem estádio sem equipa e e sem nada. É ridículo, na nossa situação, um estádio para 12/15 mil pessoas. Só a cobertura custa um milhão de contos.

Mesmo que isso implique estar dois ou três anos na III divisão?

É, tem que ser... Temos que nos render à realidade.

Imagine que ganhava as eleições. Seria um presidente na bancada ou um líder da claque no camarote?

Na bancada... sempre. Quero é estar a puxar pelo Salgueiros.

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