«Há uma empatia especial entre nós»

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Qual foi a sensação, 30 anos após Cenas da Vida Conjugal, de voltar a interpretar a personagem de Johan em Saraband?

Foi uma experiência muito interessante, porque já sabia quem Johan era, já o conhecia. Por outro lado, este filme já não tinha nada a ver com Cenas da Vida Conjugal. Das personagens do passado, só sobraram os nomes. Johan é apenas um nome, tal como Marianne.

Disse numa entrevista que tinha gostado muito de rodar Saraband porque você e Ingmar Bergman já se conhecem tão bem, que bastam pequenos gestos para se entenderem.

É verdade, comunicámos muito por sinais durante as filmagens porque já não precisamos de falar longamente um com o outro ou de discutir as coisas em grande pormenor. Quando chega a altura de rodar uma cena já estamos os dois muito bem preparados. Existe uma empatia muito especial entre nós. Saraband foi rodado em cerca de 20 dias apenas, em estúdio. Correu tudo lindamente.

Muitos realizadores tornam-se melancólicos e condescendentes com a idade. Bergman, pelo contrário, parece mais duro e pessimista do que nunca a respeito das relações sentimentais e familiares. Concorda?

Sim, mas há esperança no meio desse pessimismo e dessa amargura. O que Bergman diz em Saraband é que é muito difícil falarmos uns com os outros, abrirmo-nos uns aos outros, mas temos que continuar a tentar, tentar sempre. E essa tentativa é, em si, uma manisfestação de optimismo.

Acha que a jovem Karin, interpretada por Julia Dufvenius, personifica essa esperança?

Sim, e isso manifesta-se pelo facto de Karin querer fazer parte de uma orquestra, querer estar com outras pessoas ao invés de se fechar, de se isolar, como o pai ou o avô. E não deseja a fama. Karin quer a companhia dos outros, de músicos como ela. A música tem um papel muito importante na obra de Ingmar Bergman. Em Saraband, a música é uma realidade em si, não um mero comentário da vida que se desenrola na tela. A música é uma vida em si, tem existência própria.

Costuma falar regularmente com Ingmar Bergman?

Falamos todas as semanas. Ele vive sozinho nas ilhas Faroe mas todos os sábados conversamos pelo telefone. E não fala só comigo, há várias outras pessoas que lhe costumam telefonar. Está sozinho mas não está incomunicável.

Bergman disse que Saraband seria o seu último filme. Acredita nisso?

Não lhe sei dizer porque ele é um homem de surpresas. Acho que ele está convencido que não voltará a fazer mais nada, mas talvez não seja uma decisão definitiva. Bergman é um grande criador e de repente pode voltar a manifestar-se.

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