Zydeco
A noite mais divertida da minha vida foi quando Chubby Carrier tocou nas Sanjoaninas com a sua Bayou Swamp Band. Bom, agora que penso nisso, não foi a mais divertida. Mas foi a primeira divertida. Ou, pelo menos, é a de que eu me lembro primeiro.
Nós nunca tínhamos ouvido música zydeco. Estou mesmo convencido de que nenhum de nós sabia o que era, ou sequer que muitos o saibam ainda. Eu nunca mais parei de investigar.
O Chubby Carrier não é um músico do outro mundo. Ganhou um Grammy, mas temático, naquelas cerimónias menores em que o Grammy é mais franchising do que outra coisa. Até festas de casamento faz, se bem percebo. Gosto de acreditar que sou o seu fã português.
Era capaz de esganipar os cabelos para voltar a vê-lo descer a Rua da Sé. Ou, pelo menos, para repetir aquela noite gloriosa, creio que de 1991, em que a Bayou Swamp Band incendiou as Sanjoaninas.
Havia um tipo de tocava tábua de lavar roupa, com umas colheres. Havia um acordeão, uma espécie de violino e mais um monte de coisas que nós não conhecíamos. E havia sobretudo uma alegria triste, aquela espécie de festejo delirante contra a morte, de que o Louisiana nunca pôde dar-se ao luxo de abdicar e que nos teria feito muito bem, a nós açorianos, ter conhecido mais cedo.
Houve vários espectáculos nessa semana, em diferentes pontos de Angra. No último, fez-se uma parada, e nós gostámos tanto que deixou de haver gente pelas bermas a ver passar o cortejo - vínhamos todos lá atrás, a dançar.
Ontem estava a ver, na televisão, o Zurich Classic of New Orleans, um torneio de golfe de que gosto muito. A certa altura ecoou um acordeão feliz e triste. Fui ouvir
o Chubby Carrier, imaginan-do-me a empanturrar-me com comida cajun. Tenho um monte de discos. Sou o fã português.