Zuma é favorito na conferência do ANC
A grande maioria dos analistas e comentadores políticos sul-africanos é muito crítica do trabalho desenvolvido por Zuma à frente do ANC e do Estado desde 2009 e imputam-lhe responsabilidades não só pelo declínio da maior economia africana como também pelo estado caótico em que se encontra o partido no poder.
Reflexo disso são as divisões verificadas nas estruturas distritais e provinciais do ANC na fase de nomeações para a liderança, a ser votada em plenário em Mangaug, com várias conferências provinciais a terem de ser repetidas na sequência de insultos e confrontos físicos entre delegados e a situação inédita de três das seis províncias terem retirado na prática o apoio ao presidente do partido, optando pelo seu vice, Kgalema Motlanthe, para lhe suceder.
Hoje mesmo o Tribunal Constitucional, órgão ao qual recorrerá a estrutura provincial do Free State do ANC para que fossem impugnados os resultados eleitorais na província que eram favoráveis a Zuma, deliberou que os resultados da votação interna são, de facto, nulos, face às irregularidades detetadas no processo.
Assim sendo, o ANC do Free State chegará à conferência nacional sem lideranças eleitas pelas suas estruturas, outro facto inédito na vida do mais antigo movimento de libertação africano.
A dois dias do inicio desta importante conferência - que, mais do que a liderança do movimento, deverá definir as linhas politicas e económicas do executivo, de forma a que a governação do ANC satisfaça as aspirações do eleitorado que o mantém no poder há 18 anos -, Zuma tem cada vez mais a imagem de um líder contestado, como nenhum outro foi no passado do seu partido.
"Será fatal para esta nação não reconhecer a urgência do momento presente. Um tempo em que as nossas crianças dizem que dois mais dois são cinco, em que a Transparência Internacional classifica a nossa nação como 69.ª em termos de perceção de corrupção, tendo caído 4 lugares da posição que ocupava no ano passado e flutuando pouco acima da categoria das 'altamente corruptas'", escreve em artigo de opinião o comentador Fred Khumalo na última edição do 'Sunday Times'.
Muitos outros analistas apontam o dedo a Jacob Zuma nos falhanços governativos do seu partido à inércia, incompetência e corrupção no aparelho do Estado.
Em Mangaung, no centro do partido, o partido que já foi dirigido por personalidades de grandeza mundial como Nelson Mandela, Albert Luthuli ou Oliver Tambo, busca, mais do que um líder, uma visão de futuro para uma economia poderosa mas desequilibrada na sua base social e alicerces.
Kgalema Motlanthe, o vice de Mbeki - que o substituiu interinamente em 2008 até à eleição de Zuma - e do próprio atual Presidente, parece ser o candidato mais sério a uma sucessão que poderá ser imposta pelos 4.500 delegados, caso eles decidam não votar de acordo com os resultados das votações das estruturas. Se essas prevalecerem, no entanto, Zuma será eleito com 2.250 desses votos já apurados, mas neste momento as dúvidas são cada vez mais do que as certezas.
Motlanthe é, apesar de tudo, o candidato à Presidência nomeado por três províncias, mas no caso de uma vitória do atual presidente, poderá ser sacrificado até como "número dois" pela ousadia de se ter perfilado como candidato a um cargo que Zuma tudo fez para reter.