Zelensky pede apoio para adesão à UE, armamento e mais sanções

No Parlamento português, o presidente ucraniano fez um relato duro da guerra e acusou a Rússia de crimes contra a população civil. E ouviu Santos Silva a garantir que Portugal estará sem "ambiguidades" do lado da causa ucraniana.
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Em quatro écrans , dispostos no topo da sala do hemiciclo, o presidente ucraniano foi intenso no retrato doloroso da guerra no seu país para atingir o fim que ali o trazia, em mais uma videoconferência, ao Parlamento português. Volodymyr Zelensky pediu a Portugal armamento pesado, incluindo tanques e apoio para acelerar as sanções à Rússia, para o embargo do petróleo, e para a adesão do seu país à União Europeia.

Escutaram as bancadas parlamentares - à exceção da do PCP, cuja a ausência dos seus seis deputados deixou um ruidoso espaço em vazio no plenário - e um vasto rol de convidados, entre os quais o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa.

O retrato para chegar ao apelo foi pesado. Zelensky acusou a Federação Russa de capturar e deportar "mais de 500 mil ucranianos" e fez a comparação: "É o tamanho da cidade do Porto duas vezes."

"Ontem, não muito longe da nossa capital, encontraram mais duas sepulturas de dois homens de 35 anos e uma rapariga de 15 anos",afirmou. Os russos nem tentaram arrumá-los nem sepultá-los como deve ser. Mataram para se divertir, foram torturados". Usou ainda a expressão "inferno" para se referir ao que se está a passar em outras cidades, em particular em Mariupol , Bucha e Chernichiv.

"Estamos a lutar não apenas pela nossa independência, mas sobrevivência, pelas nossas pessoas, para não serem torturadas e violadas, capturadas pela Rússia", disse Zelensky, para o qual "o mal que está a ser feito à Ucrânia é igual ao que foi feito na II Guerra Mundial". Relatou que foram mortas mais de 10 mil pessoas, número que disse não conseguir confirmar, "porque os russos fizeram crematórios móveis para destruir os corpos" de forma a não deixar provas.

Volodymyr Zelensky advertiu que este é o primeiro passo para a Rússia controlar o Leste da Europa. E numa inevitável alusão ao 25 de Abril - já que nos 23 parlamentos em que já discursou sempre fez apelo a vários factos históricos que dizem respeito à liberdade e aos direitos humanos - disse que "o vosso povo vai daqui a nada celebrar o aniversário da revolução dos cravos e sabem perfeitamente o que estamos a sentir".

Todos os grupos parlamentares presentes se levantaram para aplaudir de pé o presidente ucraniano e durante mais de um minuto.

O presidente do Parlamento, o único a discursar nesta histórica sessão solene, fez a síntese do apoio de Portugal à causa ucraniana. Augusto Santos Silva dissipou quaisquer "ambiguidades" na condenação "à guerra ilegal" perpetrada pela Rússia e no apoio às pretensões da Ucrânia. "Defendendo-se a si própria, a Ucrânia defende-nos a todos", frisou Augusto Santos Silva que relembrou ter sido decisão do primeiro-ministro de Portugal acolher todos os cidadãos ucranianos com necessidade de proteção humanitária. O que também foi determinado pelos laços entre os dois países, muito marcados pela presença de uma comunidade vasta de ucranianos "bem integrados" em Portugal.

"A luta do seu país pela liberdade é a luta da Europa toda pela liberdade. Portugal nunca faltou, não falta e não faltará", assegurou o presidente da Assembleia da República.

Em sequência quase musical, as bancadas também aplaudiram de pé as palavras de Augusto Santos Silva e, logo de seguida, o hino ucraniano tomou conta do hemiciclo. Volodymyr Zelensky de pé entoou-o, tal como os representantes da comunidade ucraniana presentes na sessão solene.

Nas galerias assistiram a tudo outras figuras como o ex-presidente da República António Ramalho Eanes e a mulher, o antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes e o conselheiro de Estado Marques Mendes.

Os partidos reagiram ao discurso de Zelensky nos Passos Perdidos e foram unânimes na defesa de todo o apoio à Ucrânia.

Marcelo Rebelo de Sousa preferiu sair sem falar, mas publicou uma nota de agradecimento à intervenção do presidente da Ucrânia. Onde o Presidente elogia o "martirizado povo ucraniano" pelo exemplo "que tem dado ao mundo", agradecendo "a coragem, a resistência, o sentido de afirmação de independência, de soberania, de unidade nacional".

Marcelo garante também que Portugal "esteve, desde a primeira hora, e está e estará sempre, com o heroico Povo Ucraniano e a sua luta", e assegura que Portugal vai apoiar os esforços ucranianos através de vários canais diplomáticos: "União Europeia, na NATO e Nações Unidas".

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