Zapatero ainda sem aval de republicanos catalães
Os republicanos da ERC (uma das três formações do executivo catalão) avisaram ontem o Governo do PSOE que o acordo de José Luis Rodríguez Zapatero com os nacionalistas da CiU (oposição catalã) sobre a reforma do Estatuto autonómico da Catalunha pode alterar a sua relação com Madrid.
No entanto, confirmou o secretário-geral da formação republicana à imprensa espanhola, "a ERC não pretende exigir a convocação de eleições antecipadas na Catalunha". Joan Puigcercós precisou que o acordo PSOE-CiU, conseguido no domingo, "não tem como prioridade um bom estatuto para a Catalunha, mas uma agenda eleitoral e as alianças".
A versão acordada do estatuto, que já foi aprovado na generalidade pelo Parlamento de Espanha e está actualmente na fase de emendas antes de regressar à votação final, alude à Catalunha como "uma nacionalidade" em vez de uma "nação". E cede à Catalunha a gestão de mais de metade de vários impostos recolhidos na região, incluindo 50% do IVA e 58% dos impostos especiais sobre o álcool, o tabaco ou o carburante.
Os republicanos, que dividem o poder na Generalitat da Catalunha com os socialistas do PSC e os comunistas da ICV, dizem que os progressos são mínimos e exigem mais concessões no sistema de financiamento. Além de acusarem a CiU, liderada por Artur Mas, de "submeter os interesses da Catalunha ao seu programa para as próximas eleições para a Generalitat". Mas defendeu-se dizendo que o seu partido tinha toda a legitimidade para negociar o acordo e avisou que quem não o apoiar "vai ficar de fora do futuro".
Zapatero pretende fazer hoje um último esforço para vencer as reticências da ERC ao acordo, para poder encerrar as negociações sobre a reforma do Estatuto da Catalunha com os partidos catalães, uma vez que o PSC e a ICV não apresentaram objecções ao pacto PSOE-CiU.
O primeiro-ministro quer resolver um assunto que tem desviado as atenções da acção do Governo e desencadeado uma onda de críticas por parte de altos responsáveis militares receosos pela unidade de Espanha.
Ao longo do dia de ontem, a número dois do Governo espanhol, María Teresa Fernández de la Vega, assegurou que "toda a Espanha ganha" com o acordo PSOE-CiU e pediu ao PP (oposição) que se associasse ao que considerou ser "a vontade maioritária de todos para uma Espanha mais vertebrada e solidária".
Os populares catalães chegaram a admitir a possibilidade de negociar, mas o secretário-geral do PP nacional, Angel Acebes, apressou-se a dizer que a posição do partido mantém-se, ou seja, o polémico estatuto viola a Constituição de Espanha.
PSOE recupera
O desgaste provocado por quatro meses de discussões em torno do estatuto tem-se reflectido numa quebra de popularidade do PSOE e de Zapatero e numa subida do PP.
Mas a inversão da tendência parece começar a consolidar-se, a julgar pelos resultados de uma sondagem ontem divulgada pela rádio Cadena Ser, que confirma uma vantagem de três pontos percentuais dos socialistas sobre os populares.
O inquérito, realizado pelo Instituto Opina no sábado passado, revela que caso os espanhóis votassem hoje em legislativas, o PSOE conseguiria 42% dos votos e o PP 39%, mantendo intactos os resultados do estudo realizado há 15 dias.
No que diz respeito à reforma do Estatuto da Catalunha, 59,8% dos espanhóis acredita que as negociações entre o Governo espanhol e os partidos catalães terminarão com êxito, 69% pensam que haverá estatuto.
A maioria dos inquiridos (50,7%) acha que o principal responsável pela ausência dos populares nas negociações actuais é do próprio PP.
A sondagem demonstrou ainda um apoio generalizado dos espanhóis (71,1%) à decisão da justiça espanhola ao proibir o congresso de sábado da coligação independentista basca ilegalizada Batasuna. 78,1% pensa mesmo que todas as actividades da Batasuna devem ser proibidas até que a formação condene explicitamente a violência da ETA.
Otegi optimista
O porta-voz da Batasuna, Arnaldo Otegi, declarou-se ontem optimista de que um acordo sobre a Catalunha vai permitir a Zapatero dedicar-se à paz no País Basco.
"A solução para a Catalunha vai criar oportunidades e condições para dar novos passos também em Euskal Herria [o grande País Basco]", disse Otegi na rádio basca, acrescentando que "nas próximas semanas haverão notícias positivas" que ajudarão "um processo" de paz.
Apesar de Zapatero ter condicionado o "diálogo" ao abandono das armas pela ETA o porta-voz da Batasuna insistiu "Este ano [2006] será importante para que as coisas sejam feitas correctamente".
A tentativa da ETA e, agora, de Otegi, de colocar País Basco e Catalunha no mesmo saco tem sido fortemente criticada pelos catalães. O presidente da Generalitat, o socialista Pasqual Maragall, reafirmou ontem em entrevista ao El País "que são processos distintos e separados".