Yolanda Díaz: "Nestas eleições está em jogo uma Europa mais social, mais feminista e mais livre"

Candidata à presidência do governo nas eleições de dia 23, a líder do Sumar falou a um grupo de correspondentes estrangeiros sobre os projetos que tem para o futuro do país. E deixou alertas sobre o que considera poder acontecer caso o PP se alie ao Vox.
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Yolanda Díaz nunca perde o seu sorriso. Com uma imagem pública doce e amável, muito próxima das pessoas, é hoje a política mais bem valorizada entre os espanhóis. Dialogante e recetiva tem, ao mesmo tempo, um caráter forte e uma grande personalidade que a ajudaram a converter-se na líder da esquerda progressista em Espanha. Nascida em Fene (na Corunha, em 1971), a segunda vice-primeira ministra e titular da pasta do Trabalho no governo espanhol é uma das candidatas à presidência do Executivo nas próximas eleições gerais marcadas para o próximo dia 23.

Filha de um militante comunista, lutador contra o franquismo, define-se como "uma progressista que odeia os fetichismos", explica a própria Yolanda a um grupo de correspondentes estrangeiros em Madrid, entre eles o DN. A sua missão política é "melhorar a vida das pessoas, mobilizar a esquerda com um projeto de futuro dirigido a todos, com o objetivo de colocar o trabalho no centro, com justiça fiscal e um projeto que leve a bandeira da emancipação do feminismo".

A líder do Sumar quer ser a primeira mulher chefe do governo de Espanha e vai ainda mais longe pois quer ser "a primeira líder verde do meu país". E lembra que este movimento político é "o projeto ecologista mais relevante em Espanha".

Díaz, advogada de formação especializada em Recursos Humanos, chegou à política em 2007, como vereadora na Câmara Municipal de Ferrol. Depois de ser deputada no parlamento galego e posteriormente no Congresso, Pedro Sánchez chamou-a em 2020 para fazer parte do seu governo, ocupando o cargo de ministra de Trabalho e Economia Social. O seu grande objetivo concretizado no governo de coligação foi a reforma laboral, da qual sente muito orgulho, mas também releva os 18 grandes acordos sociais fechados com ela como ministra.

Na conversa com a imprensa internacional analisou vários assuntos, entre eles o porquê do projeto Sumar. "Há muito tempo que observamos a falta de empatia dos cidadãos com a política, mais do que quando surgiu o 15M [movimento responsável por vários protestos em maio de 2011 e que começaram por ser convocados nas redes sociais]. A política é um problema de cidadania e assim surge a vocação de criar um movimento dos cidadãos", sublinha Díaz. Num ano foram efetuadas 35 reuniões "para fazer nascer um projeto de país que juntou mais de 1000 pessoas que debateram o que fazer para aproximar as pessoas à política", frisa.

"Nestas eleições está em jogo a vida das pessoas. Não estamos a falar do futuro dos políticos", avisa Díaz. As suas propostas passam por continuar a subir o salário mínimo (que agora é de 1050 euros), lutar por conseguir uma jornada de trabalho de 4 dias ou sair do emprego uma hora mais cedo. E uma das suas medidas mais inovadoras é a chamada herança universal, uma ajuda pública de 20 mil euros a entregar a todos os jovens quando chegam à maioridade. Esta nova despesa pública de 100 mil milhões de euros seria financiada por um imposto sobre as grandes fortunas. "É uma medida redistributiva para que os jovens possam ter futuro sem depender dos seus apelidos", explica a ainda ministra de Trabalho. E fala do seu exemplo, "gostava de ter sido inspetora de trabalho, mas não me podia parar de trabalhar durante cinco anos para preparar a licenciatura".

Yolanda Díaz também deixa um alerta dirigido à Europa pois no seu entender, nos últimos anos, com o governo de coligação a "Espanha teve um papel muito proativo em diversos temas". Por isso pensa que também está em jogo "uma Europa mais social, mais feminista e mais livre".

Neste encontro com jornalistas não esconde a sua visão crítica sobre a política espanhola e do próprio governo, recordando que há um ano, numa entrevista a El País, afirmou que "falta alma no governo de Espanha", porque, sublinha, já "intuía o que estava a passar no país". Afirma que a esquerda gere melhor do que a direita, que foi possível baixar muito a inflação, mas a crise prejudicou, e muito, o Estado de Social. Também não esconde o "mau resultado eleitoral" da esquerda nas eleições municipais e regionais do passado mês de maio que tiveram como consequência a decisão de provocar eleições.

Em relação às sondagens, disse que "há ventos de mudança e só haverá um governo progressista se o Sumar crescer muito". Há sondagens que referem a possibilidade de o partido chegar aos 40 deputados, colocando-o (em conjunto com o Unidas Podemos) como terceira força política do país. Um lugar para o qual vão competir com o Vox, força política da extrema-direita que "está a transformar o feminismo numa guerra de sexos. Mas o feminismo dá mais liberdade aos homens e às mulheres", sublinha.

Yolanda Díaz sabe perfeitamente qual seria a composição de um governo por ela liderado. Por agora, na melhor das hipóteses, voltaria a trabalhar com Pedro Sánchez num novo governo de coligação. Afirma manter uma "magnífica relação" com o líder do governo, com quem faz "uma equipa que trabalha para uma Espanha melhor".

Sumar surgiu há cerca de um ano como um movimento cidadão progressista de esquerda e é assim que Yolanda Díaz, a sua fundadora, gosta de falar do seu projeto. Uma plataforma que foi registada como partido político em maio com o nome de "Movimento Sumar" para garantir a participação de pessoas independentes nesta união de 15 forças políticas. Sumar define-se como "um movimento europeísta, plural, que quer uma sociedade mais livre, mais feminista e mais igualitária".

dnot@dn.pt

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