Whopper

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Se há 25 anos nos tivessem dito que ia abrir um Burger King em Angra, teríamos feito uma parada na Rua da Sé. O presidente do Governo viria de São Miguel só para cortar a fita. Haveria excursões da Praia, de São Jorge e da Califórnia. Durante meses, não se falaria de outra coisa - mais até do que aconteceu quando a Twins trouxe duas raparigas para dançar num varão.

Por nós, teríamos ido lá comer apenas ao fim de algumas semanas, depois de convencermos os nossos pais de que não era caro - aliás nada caro, se tivéssemos em conta o valor nutricional e a ventura do passeio. Organizar-nos-íamos em excursão, eu e a Laura aqui da Terra Chã, os meus primos de São Bartolomeu, o Zé Manel e a Noémia da Vila Nova. As raparigas pentear-se-iam durante dias e, quando um de nós sujasse a roupa nova de gordura, brindaríamos com as nossas Pepsis, orgulhosos de ter podido testemunhar a chegada de um novo tempo.

Há 25 anos, um tripple whopper não teria apenas colesterol: teria o condão de nos resgatar a adolescência. A partir daí, já não seria preciso esperar pelo dia da Entrada Geral da Base nem ir pedir ao director do Clube de Golfe, de chapéu na mão, que nos autorizasse ocupar uma mesa no bar. Há 25 anos, a inauguração de um Burger King em Angra seria menos uma demonstração de que é possível estragar um bife do que uma prova da existência de Deus. A Terceira estaria, enfim, no mapa. Lá em cima, alguém reconhecia a nossa existência. Hoje, temos mais o que fazer. Vai abrir um Burger King numa cidade que já possui umas dez casas de hambúrgueres. Efectivamente fala-se de outras coisas no quotidiano da ilha. E, se a algum de nós nos perguntam se não vamos ao menos querer matar saudades, não nos ocorre outra coisa senão perguntar: "Não podia ao menos ter sido um McDonald"s?"

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