Whisky além da idade: Evolução na indústria e tendências emergentes
Durante décadas, a indicação de idade foi um dos principais critérios pelos quais os apreciadores de whisky avaliavam a sua qualidade.
O envelhecimento é de facto uma das etapas mais cruciais, onde o whisky adquire o seu caráter único. O contacto com a madeira ao longo dos anos confere sabores e aromas complexos, que variam desde baunilha e caramelo até notas frutadas e de especiarias. As barricas usadas frequentemente têm uma história própria, quer pelo tipo de madeira, dimensão ou por terem anteriormente envelhecido outros néctares como vinho jerez, sauterne ou vinho do Porto.
Os entusiastas são distintos, alguns apreciam os maltes escoceses pela sua pureza e complexidade, enquanto outros têm predileção pelos bourbons americanos devido à sua robustez e notas adocicadas. O whisky irlandês é reconhecido pela suavidade, enquanto o japonês é reverenciado pela sua precisão e elegância.
A experiência sensorial é de facto um tema importante (?), especialmente quando se fala em envelhecimento e consequentemente em indicação de idade. No entanto, haverá sacrifício da qualidade em detrimento da queda da indicação de idade nos rótulos? O que mudou de facto?
As novas tendências de consumo ditam, uma crescente procura por whiskys mais jovens e inovadores. São valorizados aspetos como: a versatilidade quando o assunto é mixologia e o perfil aromático quando o tema é satisfazer as expectativas de um público mais jovem e menos conservador.
O Master Distillers, assume um papel cada vez mais relevante no processo. Com a maior flexibilidade na mistura dos lotes para engarrafamento, de forma a alcançar o equilíbrio entre a qualidade e as expectativas dos consumidores. Surge ainda a oportunidade de criar receitas distintas e inovadores que aguçam os sentidos dos consumidores mais ecléticos.
O foco passa essencialmente, pela qualidade e diferenciação e não apenas pelo envelhecimento. Algumas marcas têm apostado na inovação e na possibilidade de criarem perfis de acordo com a procura e tendências atuais, desta forma podem ainda dar resposta face à escassez de "stock" de whisky envelhecido.
Aspetos como: a tipologia da barrica (dimensões), combinação de diferentes madeiras e clima de cada região, são singularidades que podem influenciar a expressão do whisky. Não obstante, na minha opinião a declaração de idade continua a ser fator importante para os apreciadores mais tradicionais. A tendência, é que sejam futuramente encarados com preciosidade devido à sua cada vez maior raridade.
É inegável que o setor está a evoluir e a modernizar-se, desafiando noções pré-concebidas e expandindo os horizontes dos amantes de whisky por todo o mundo.
Em última análise, como observou Ernest Hemingway, "Nunca se atrase a beijar uma mulher bonita ou a abrir uma garrafa de whisky." Às vezes, as coisas mais prazerosas da vida merecem ser apreciadas sem demora. Um brinde às boas coisas da vida!
Jaime Vaz é CEO da Garrafeira Nacional