"Westworld", o mundo onde se concretizam desejos imorais

Série produzida por J.J. Abrams e protagonizada por Anthony Hopkins já é apelidada de "a próxima 'Guerra dos Tronos'". Estreia mundial assinala-se hoje no TVSéries
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Olhe bem longe para o futuro e imagine um parque temático. Um espaço vasto, povoado por seres com inteligência artificial, criados por um temível Anthony Hopkins. Aí, e só aí, os visitantes podem ser como querem, sem limites, e concretizar os seus desejos mais obscuros. Seja bem-vindo a Westworld. A boa notícia é que, para lá entrar, não precisa de esperar um batalhão de anos. Basta ver a estreia no TVSéries, nesta noite, pelas 02.00, em sintonia com a exibição nos EUA.

A "próxima Guerra dos Tronos", como a crítica a tem apelidado, é a série da HBO mais aguardada deste final de ano. Assinala não só o regresso de Hopkins ao pequeno ecrã - na pele de Dr. Robert Ford, criador de Westworld -, mas também a união de dois dos maiores nomes de Hollywood: J.J. Abrams (Star Wars: O Despertar da Força) e Jonathan Nolan (A Origem).

"Westworld é um local para onde vamos para explorar os lados mais escondidos, violentos e vis de nós próprios, para sermos imunes a qualquer proibição legal. Podemos ser o quão imorais quisermos", garante o veterano Ed Harris (Uma Mente Brilhante), que é, a par de Hopkins, outro dos nomes fortes do elenco. A sua personagem é conhecida, simplesmente, como The Man in Black (em português, O Homem de Negro). "É misterioso. Há 30 anos que ele frequenta o parque, por isso é obviamente um homem com posses. Ele acha que há algo mais a acontecer por detrás de Westworld e que é a personagem de Hopkins que o está a orquestrar. Por isso, está em missão de descoberta não apenas sobre si próprio, mas sobre a natureza daquele lugar", revela o ator de 65 anos, numa entrevista em exclusivo ao DN.

Todo o objetivo deste drama de ficção científica é, nas palavras de Thandie Newton, outro dos rostos fundamentais, "questionar a natureza da nossa realidade". "Quando li o guião do primeiro episódio, fiquei horrorizada com tanta coisa - com a violência, a depravação - e isso era um problema para mim", confessa a atriz britânica de 43 anos, que interpreta Maeve Millay, uma prostituta. "Mas o objetivo é chocar-nos e alertar para o facto de que isto é o que fazemos uns aos outros. Temos de mostrar o extremo para podermos comentar a realidade", explica.

Uma série de causas

"Com o desenvolvimento da inteligência artificial, o que é que o mundo se vai tornar? Como lidaremos com isso? Quais os limites?" Estas são as questões que pairam na cabeça de Ed Harris e que ele espera que sejam feitas, de igual forma, pelos espectadores de Westworld. "As pessoas podem estar desconfiadas, preocupadas, ansiosas com muitos aspetos da tecnologia, porque os avanços estão muito para lá da evolução humana. Ainda não aprendemos a lidar com esses seres ou a usá-los para nossa vantagem e para o bem da espécie humana. O jogo pode virar e o resultado pode ser catastrófico", alertou.

Já Thandie Newton, olha para este que é um dos seus mais desafiantes projetos até à data, como uma forma de explorar o seu lado humanitário e "acabar com a violência contra mulheres". "É isso que faço no meu tempo livre, é a minha verdadeira paixão, o meu foco, e é algo que devo fazer enquanto mãe, mulher e antropologista. Mas muitas vezes, quando volto à minha profissão, e sou paga para fazer um papel, sinto que estou a trair essas ideias."

Com Westworld, porém, isso não aconteceu. "Todos os dias ia trabalhar e sentia-me satisfeita com esse meu lado ativista dos direitos humanos, apenas através das palavras que estava a dizer nas cenas. Nunca senti isso antes", assegurou. Sobre a sua excessiva nudez na série - "estou nua em quase todas as cenas", revela -, a atriz não hesita em defender: "Já estive em séries em que usava roupa e me sentia mais exposta, mais explorada, enquanto mulher."

Criadores respondem a críticas

A série ainda não se estreou e já há quem aponte o dedo ao tratamento que esta oferece às mulheres e à forma como retrata o tema da violência sexual. "As críticas são precisas, mas não podemos contar uma história sobre opressão sem mostrar o que acontece aos oprimidos", explicou o produtor executivo J.J. Abrams, numa entrevista à Associação de Imprensa norte-americana. "Se fosse um filme", justificou ainda, "eu diria "bolas, têm razão a 100%". Mas é uma série e tem motivos para ir numa certa direção. Ninguém entrou neste projeto a pensar "vamos fazer algo que desumanize as mulheres". Isto é uma série, defendo eu, que faz precisamente o contrário."

O realizador Jonathan Nolan frisou, por sua vez, que são os desejos do próprio público que explicam a natureza da trama. "Nós imploramos por violência à nossa volta e parecemos estar à sua procura no entretenimento. O apetite das pessoas que visitam este parque, e a razão por que o fazem, era algo que queríamos explorar", disse.

A próxima Guerra dos Tronos?

A qualidade da história está lá. O elenco, também. Até o nome, Westworld, se assemelha a Westeros, o reino ficcional da série de maior sucesso da HBO. Mas, afinal, o que têm os responsáveis a dizer a quem já compara a sua série a A Guerra dos Tronos? "Esse é um fenómeno que não pode ser igualado, por isso acho que precisamos de acabar com as comparações e dizer que esta é apenas uma outra série num canal extraordinário", realçou Abrams.

Baseada no filme de 1973 com o mesmo nome, Westworld conta ainda com Evan Rachel Wood, James Marsden e o ator brasileiro Rodrigo Santoro no elenco. De resto, os episódios seguintes passam a ser exibidos no TVSéries em horário nobre, às segundas-feiras, e pelas 22.45.

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