WelPilsen a este artigo
Em 2005, quando cheguei ao Brasil, a publicidade impressa ainda era muito assente em headlines (títulos). O diretor de arte ia trabalhando na arte e o copywriter (redator) colocava os headphones e era obrigado a produzir centenas de headlines (não estou a brincar, eram centenas mesmo). No meu primeiro briefing, estalei os dedos, inspirei fundo e, motivado a mostrar serviço, desatei a disparar jogos de palavras. Foi como se a divindade dos trocadilhos tivesse baixado em mim. Infelizmente, não me lembro de nenhum, mas lembro-me do sentimento de dever cumprido quando adentrei pela sala dos diretores criativos para mostrar as duas dúzias de páginas. No rosto deles também se denunciava a expectativa. "Deixa-me lá ver do que este patrício é capaz", deviam pensar. Começaram a ler com um sorriso maternal. Aos poucos, a expressão foi-se contorcendo. Depois, as sobrancelhas e os olhos começaram a arregalar-se. Até que caíram no riso. "Portuga, pelo amorrrrr! Leva esses trocadilhos daqui pra fora, senão vou extraditar você de volta pra terrinha. Faz tudo de novo e só volta aqui quando não tiver um único trocadilho." Voltei com o rabinho entre as pernas para o meu lugar e a partir daí nunca mais fiz trocadilhos.