WARHOL O SUPER 'POP'
Enquanto Vincent Van Gogh durante a sua existência só vendeu um quadro, Andy Warhol já tinha vendido imensos quando o seu caixão baixou à sepultura. Mas o mais incrível de tudo é que a grande loucura sobre a sua obra ficaria para o século XXI. Mas quem foi, afinal, esta personagem tão "prismática"? Antes de mais nada, um camaleão: ilustrador publicitário, pintor de vanguarda, realizador de cinema, produtor discográfico, director de revista e cortesão inveterado. Um homem que cultivava a celebridade (a dele e a dos outros, por esta ordem), mas a quem os produtores de TV aprenderam a evitar como a peste - porque ele praticamente não dava um pio, o que podia ser muito embaraçoso. Um homem rodeado por um universo de sexo e drogas e que era, ele próprio, quase celibatário, não fumava nem consumia estupefacientes e jamais bebia álcool. Um homem que passou, deliberadamente, a maior parte da sua vida no vórtice de uma multidão frenética, mas sempre solitário como um faroleiro. E, para o bem ou para o mal, um dos artistas mais influentes do século XX.
Andy nasceu com o nome de Andrew Warhola, em Pittsburgh, nos EUA. Os pais eram emigrantes da Europa Central. Quando se fixaram na Pensilvânia, o pai trabalhou na construção civil. Na terceira classe, Andy contraiu a doença de São Vito, um distúrbio do sistema nervoso que causa movimentos involuntários. A doença, por sua vez, afectou a pigmentação da sua pele, tornando-o albino e conferindo-lhe aquele inconfundível visual de mutante marciano.
Em 1949, Warhol mudou-se para Nova Iorque, onde iniciou uma bem sucedida carreira como ilustrador. Quando os tempestuosos anos 60 raiaram, ele estava pronto para dar o salto - e foi um pinote digno de um triplo mortal empranchado. Desatou a pintar temas que repeliam a auréola, por exemplo, de um Guernica. Optou pelas tralhas daquela que começava a ser chamada "a sociedade de consumo", sobretudo latas de sopa e garrafas de Coca-Cola. Não era só provocação, mas uma revolução conceptual. Como Warhol explicou: "O que há de grande neste país é que a América iniciou uma tradição na qual os mais ricos consomem essencialmente as mesmas coisas que os mais pobres. Toda a gente bebe Coca-Cola, do presidente da República ao sem-abrigo."
Abriu um estúdio, intitulado A Fábrica. Ao mesmo tempo, entrou na pintura de celebridades como Marilyn Monroe ou Liz Taylor. Adoptou a serigrafia, e produzia doses cavalares de telas - não tanto para fazer arte a partir do comércio, mas para tornar o comércio uma arte. Uma das suas primeiras exposições públicas foi num supermercado nova-iorquino. Chegou a pintar notas de dólar, mas também nuvens de cogumelos e cães polícias a atacarem manifestantes pelos direitos civis. Foi então que se definiu como "uma máquina". Entronizou-se como VIP controverso (Pop deriva de popular).
Warhol atraiu para a sua órbita uma fauna de boémios excêntricos a quem ele chamava superstars. Conscientemente ou não, estava um bocadinho a brincar com o fogo - e quase ardeu. No dia 3 de Junho de 1968, Valerie Solanas (que queria ser actriz e/ ou escritora, e não era nem uma coisa nem outra) deu-lhe um tiro. Não morreu por um triz: os médicos tiveram que lhe abrir o tórax ao meio e massajar-lhe o coração. Ao ser detida pelo crime, Valerie justificou-se: "Andy controlava demasiado a minha vida." Ah, OK.
Por comparação, os anos 70 foram mais calminhos: o artista dedicou-se, sobretudo, a pintar retratos de personagens ricas e badaladas. Para ser retratado, Truman Capote concordou em perder peso e fazer um facelift. Liza Minelli, Helene Rochas, Mick Jagger... Quase todos os retratos foram encomendas, geralmente dos retratados. Nas horas vagas, o pintor frequentava discotecas, como o Studio 54, sempre com aquela cara de zombie. Até que, do ar de morto-vivo, passou a exclusivamente morto, com a tenra idade de 58 anos.
Warhol fora internado no New York Hospital para uma operação inócua à vesícula. Recuperava bem, quando teve um ataque cardíaco. Os médicos tiveram culpa no cartório e os advogados do artista esfregaram as mãos e depenaram o hospital num processo milionário. Parecia que tudo aquilo em que Andy tocava se transformava em dinheiro, mesmo a própria morte.
No velório, o pintor era o homem mais elegante na sala: usava fato de caxemira, gravata com cornucópias, peruca platinada e óculos de sol. Nas mãos, um livro de orações e uma rosa vermelha. O elogio fúnebre competiu a Yoko Ono. Depois o caixão foi fechado e coberto com rosas brancas e molhos de espargos. |