Vulcão La Palma: Autoridades espanholas autorizam uso de drones para resgatar quatro cães presos na lava
O comité de crise do vulcão La Palma autorizou o resgate, através de drones, de quatro cães que há duas semanas ficaram presos em duas lagoas na zona de exclusão do vulcão.
O órgão, que reúne poder local, cientistas, forças de seguranças, Proteção Civil e serviços de emergência, decidiu autorizar o resgate assim que for recebido o pedido formal.
Os cães vão sobrevivendo porque há duas empresas locais que os alimentam graças a pequenos drones, com um peso inferior a 250 gramas.
Os técnicos e operadores de drones da empresa Aerocamara foram destacados esta segunda-feira para preparar a evacuação dos animais e já apresentaram a sua estratégia às autoridades.
"Estamos preparados para realizar o resgate. A vida dos cães está em jogo e nosso objetivo é salvá-los o mais rápido possível, é preciso que os tiremos dali em breve e com a autorização em mãos vamos começar a trabalhar agora mesmo", afirmou o CEO da empresa, Jaime Pereira, em comunicado à imprensa.
O responsável tinha dito recentemente ao El País que a empresa vai realizar "uma operação sem precedentes, que nunca foi feita no mundo". "Mas é isso ou deixá-los morrer", explicou.
Para a operação, a empresa adaptou um aparelho de dois metros e meio de diâmetro, capaz de suportar 24 quilos e que antes tinha sido desenvolvido para transportar mercadorias até aos navios que cruzam o Estreito de Gibraltar.
Os drones da Aerocamera vão começar a operação por entregar comida e bebida aos cães, o que dará tempo aos operadores para inspecionar o local da extração enquanto habituam os animais ao ruído e à presença do dispositivo. Depois será levado a cabo o processo de evacuação, através de um drone de carga equipado com um sistema de logística adaptado às características dos animais, juntamente com outro avião de apoio.
A legislação espanhola apresenta um vazio no que diz respeito ao resgate de animais vivos através de drones, ao contrário do que vinha a ser veiculado por alguma comunicação social do país, que dizia tratar-se um procedimento ilegal.
Cumpre-se esta terça-feira um mês que o vulcão La Palma entrou em erupção nas Ilhas Canárias. Apesar do pesado rastro de perdas materiais e de transtornos para empresas e famílias, a boa notícia é a ausência de mortes.
Trata-se da primeira erupção sobre a superfície terrestre de Espanha em 50 anos, mas que já cuspiu 80 milhões de metros cúbicos de lava, destruiu 762 hectares de terreno, 56,4 quilómetros de estrada, 226,8 hectares de bananeiras e1692 edifícios no valor de 201 milhões de euros.
Com 708,32 quilómetros quadrados, La Palma é a quinta maior ilha das Canárias, mas já viu 1% do seu território ser consumido pela lava.
Um mês depois do início da erupção, o vulcão continua com uma atividade intensa, apesar de nas últimas horas ter entrado numa fase de "estabilidade e lentidão".
Apesar de segunda-feira ter sido um dia sem incidentes, as autoridades alertaram em comunicado que, dada a previsão da chegada ao mar de uma frente ativa de lava, e da provável emissão de mais gazes nocivos para a saúde se poderia ordenar o confinamento da população em áreas próximas.
Este rio de lava acabou por, nas últimas horas, desacelerar a sua velocidade para apenas dois metros por hora adiando por mais alguns dias o seu contacto com as águas do Oceano Atlântico.
Há sinais de alguma normalização na vida do dia a dia, com as autoridades responsáveis pela Educação nas Ilhas Canárias a permitir que as aulas nas escolas fossem retomadas na segunda-feira nos municípios mais afetados pelo vulcão (Tazacorte, Los Llanos de Aridane e El Paso), com um número de alunos superior a 90 por cento.
A ilha de La Palma converteu-se neste mês num dos locais mais observado em todo o mundo, com os cientistas a aprofundar o seu conhecimento sobre a evolução do planeta.
Foi um mês sem descanso para a população da ilha, confrontada com uma catástrofe social e económica, sendo no entanto um alívio o facto de não ter havido até agora qualquer vítima mortal motivado pela atividade do vulcão e a solidariedade, assim como a erupção, ter sido uma constante.
Um mês após o início da erupção, ocorreu este fim de semana o terramoto de maior magnitude (4,6), a 37 quilómetros de profundidade, circunstância que, segundo o Plano de Emergência Vulcânica da Ilhas Canárias (Pevolca) é possível que se repita.
O presidente da comunidade autónoma espanhola das Ilhas Canárias, Ángel Víctor Torres, disse no domingo que não acredita que "o fim da erupção em La Palma está iminente", apesar do facto de "o maior desejo de todos" ser que "este vulcão termine rapidamente".
Segundo os cientistas, a possibilidade da erupção enfraquecer "não está perto", uma vez que ainda existem deformações na área do cone do vulcão, não sendo de excluir totalmente que possa haver novas saídas de lava.
"Estamos à mercê do vulcão, é o único que pode decidir quando ele termina", salientou o presidente das Canárias, que assegurou que "o maior desejo" do arquipélago, neste momento, é que a força do vulcão comece a enfraquecer.
A atividade sísmica associada à erupção vulcânica em La Palma continua ativa com várias dezenas de tremores de terra a regista-se diariamente, alguns deles a serem sentido pela população da ilha.
Mesmo assim, o comité científico, que aconselha as autoridades que acompanham a situação, atribui esta atividade sísmica à realimentação do vulcão em camadas profundas de terra e exclui, de momento, a possibilidade do aparecimento de novas bocas eruptivas nas áreas onde estes tremores estão a ocorrer a grandes profundidades.
Uma semana antes da primeira erupção, uma atividade sísmica intensa começou a ser registada na ilha, o que já tinha acontecido nove vezes desde 2017.
A 14 de setembro, o Instituto Nacional Geográfico espanhol (IGN) contou 3.000 eventos sísmicos, 700 dos quais em profundidades entre 9 e 12 quilómetros, com a população a ficar cada vez mais preocupada com a possibilidade de uma possível erupção vulcânica.
A 19 de setembro começou a ser claro para as autoridades que a atividade sísmica correspondia a uma fase pré-eruptiva e foi iniciada a evacuação preventiva de pessoas com mobilidade reduzida nos núcleos em risco.
Nesse dia às 15:13 locais (a mesma hora em Lisboa) começa a erupção vulcânica em Cumbre Vieja, na ilha de La Palma, numa zona despovoada, em Cabeza de Vaca, município de El Paso.
Esta é a oitava erupção em La Palma desde que foram mantidos registos históricos e a décima sétima nas Ilhas Canárias.
Nos primeiros dias foram retiradas 5.000 pessoas e uma dúzia de casas foram destruídas pela lava do vulcão que avançava para oeste a 700 metros por hora.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, atrasa a partida para Nova Iorque, para participar na assembleia anual da ONU (Nações Unidas), e viaja para La Palma onde garante que toda a Espanha está com a população da ilha e empenhada na sua reconstrução.
A 23 de setembro, os reis de Espanha, Felipe VI e Letízia, visitam La Palma e expressam a sua solidariedade, especialmente com os deslocados e no dia seguinte Pedro Sánchez anuncia um plano especial para a reconstrução de La Palma e ajuda imediata para satisfazer as necessidades habitacionais, comprar bens de primeira necessidade e restabelecer as comunicações.
Durante o mês em que está ativo, o vulcão tem-se reativado várias vezes com diferentes graus de atividades explosiva e emissão de gazes tóxicos e cinzas, com mais evacuações a acontecer, umas atrás das outras.
As companhias de transportes aéreos suspendem por vezes as suas operações em La Palma por causa das cinzas ou nos dias em que o aeroporto está encerrado.
Em 28 de setembro, o Conselho de Ministros espanhol declara La Palma uma zona de catástrofe e aprova os primeiros socorros de 10,5 milhões de euros para a compra de casas e pertences para as vítimas.
Segundo cálculos feitos pelo Instituto Vulcanológico das Ilhas Canárias (Involcan), a erupção vulcânica de Cumbre Vieja poderia durar entre 24 e 84 dias, com uma média geométrica de cerca de 55 dias.
O instituto explicou que a duração da erupção é uma das perguntas que os especialistas fazem frequentemente e, embora não seja fácil de responder, pode ser calculada utilizando os dados conhecidos sobre a duração das erupções históricas que ocorreram na ilha de La Palma.
Com esses dados, Involcan calcula que a erupção atual, que começou no domingo 19 de setembro, poderia durar uma média de 55 dias, com um máximo de 84 dias e um mínimo, já ultrapassado, de 24.