Não há quaisquer subterfúgios aceitáveis. Portugal chegou ao beco sem saída em que actualmente se encontra por culpa exclusiva do Governo. Durante anos e anos fizeram-se ouvir inúmeras vozes críticas e qualificadas com as mais sérias advertências quanto ao destino que nos esperava. Os irresponsáveis que nos regem fizeram ouvidos de mercador. E, pior, a governação socialista deu provas de cultivar uma aldrabice soez e com- pulsiva no que respeita ao estado do país..Neste quadro, em que a mentira mais descarada tem vindo a ser governamentalmente promovida como virtude, o discurso de Cavaco Silva tinha de ser o que foi: sem contemplações, acusador e severo. E tinha de mostrar rijamente nas entrelinhas que, no exercício das suas funções, ele não hesitará em dar um pontapé no rabo dessa gente. .É pelos melhores motivos que o discurso presidencial ficará na História. De nada adianta aos apaniguados do PS sacudirem a toda a pressa a água do capote para cima da crise económica e financeira global. Essa crise surgiu depois de feita muita asneira de calibre absolutamente inconcebível em Portugal. Por muito desprevenidos que ela apanhasse governos e instituições pelo mundo fora, por cá, a imprudência e a incompetência do Governo português haviam de levar ao mais desastroso dos desfechos. E, quando já era mais do que evidente o horizonte que se preparava, nem mesmo assim o Governo quis ou soube tomar medidas para conter e minimizar os seus efeitos. .Não se diga que as medidas agora se justificam pela crise, nem se faça chantagem invocando o interesse nacional, porque o argumento está viciado à partida: as medidas duríssimas são tomadas à pressa e à pressão porque o Governo não tomou outras, mais sensatas e adequadas, a tempo e horas de evitar as mais gravosas. Como não o fez, agora tem de ir pelo pior caminho. Logo, a justificação não pode estar na crise, mas sim na incompetência e na irresponsabilidade com que o Governo agiu..É saudável que o Presidente da República não tenha tido contemplações com essas criaturas. Ao contrário do que houve quem dissesse, não declarou guerra ao Governo. Essa gente nem sequer seria digna de tal declaração. O que o Presidente fez - e muito bem - foi realmente "um requisitório sem nuances nem atenuantes", como escreve Vital Moreira, pela razão singela de que não há qualquer espaço para nuances nem atenuantes. .Tal requisitório só pode ser tomado como declaração de guerra no mesmo sentido metafórico em que se diz que os tribunais e as magistraturas declaram guerra ao crime. .De facto, para continuar a citar Vital Moreira, no discurso presidencial "tudo se passa como se o Governo fosse o culpado de tudo" porque efectivamente o Governo é o culpado de tudo! Não há, nem na história europeia, nem na história nacional, exemplo de uma situação mais vergonhosa do que a gestão socialista cuja obstinada incompetência levou, na prática, à perda da independência e à ruína total do país. .Na sua má-fé sem limites, a esquerda socratista treslê: diz que o Presidente criticou o excesso de Estado, escamoteando que ele defendeu "um civismo de independência face ao Estado" e verberou a promiscuidade entre o universo da política e o dos negócios devido ao "crescimento desmesurado do peso do Estado"; achou mal que ele sublinhasse a importância nuclear da família, quando seria uma aberração se não o fizesse; e esganiça-se a dizer que ele defende as escolas privadas, quando ele afirmou, e é pura evidência, que "todos os estabelecimentos que se destaquem pelos seus resultados têm de merecer o reconhecimento da sociedade e do Estado"....Cavaco Silva, ao percorrer estes e muitos outros tópicos (como, por exemplo, a iniciativa empresarial, a floresta, o mar, a cultura e o lazer, as indústrias criativas, o turismo, a agricultura...), foi extremamente objectivo, por muito que a dita esquerda socratista finja que se põe a arrepelar os cabelos..Só uma perversão mental doentia é que seria capaz de sustentar que o Governo estivesse à vontade para proferir mentiras e dislates consecutivos mas que o Presidente não pudesse dizer coisas acertadas, ou devesse abster- -se de indicar os caminhos que julga imprescindíveis para serem alcançados os grandes objectivos nacionais..É por isso que soa cada vez mais a cana rachada qualquer tentativa de branquear o que não é branqueável.