Vozes da rádio renovam-se inspiradas nos velhos mestres

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Égooooooooooooooolo!" É do ritmo das palavras que um relato de futebol vive, e o seu apogeu revela-se quando a bola atinge o fundo da rede. "Qualquer pessoa em rádio aguenta, à vontade, um minuto a gritar golo", assume Alexandre Afonso, jornalista da Antena 1.

Hélder Conduto, da TSF até amanhã, e Carlos Dias, da Rádio Renascença (RR), juntam-se a Alexandre e formam um trio de ataque na nova geração de relatores de futebol nas principais rádios portuguesas.

Inspirados, desde crianças, pelas vozes de Ribeiro Cristóvão, Fernando Correia, Jorge Perestrelo (falecido a 6 de Maio do ano passado), David Borges e António Pedro perceberam rapidamente o que gostariam de fazer quando fossem grandes.

"Ia para o liceu a fazer relatos, via os jogos na televisão e gravava os meus relatos num gravador antigo", conta ao DN Alexandre. A sua memória mais antiga é dos tempos da primária, quando um tio lhe telefonava para o ouvir dizer a composição da equipa do Sporting com a entoação certa.

Também Hélder revela que entretinha os amigos com as suas proezas vocais ainda nos bancos da escola. Carlos, mais tímido, manteve o seu desejo secreto e confessa que era no sofá que "relatava para ninguém".

As rádios locais foram as portas que se abriram e ajudaram a desenvolver o talento dos três. Hélder Conduto, o mais jovem entre os seus pares, também foi o que mais cedo começou aos microfones. "Tinha 13 anos quando resolvi telefonar ao director da Rádio Castrense, que me disse para aparecer no sábado. Ao intervalo do jogo assumi o relato." E lá ficou até 1996, quando passou para a liga profissional na TSF.

Aos 16 anos, Alexandre Afonso agarrou com "unhas e dentes" a oportunidade que a Rádio Portalegre lhe ofereceu. Quando optou por viver na capital, foi na Rádio Nova Antena (RNA), em Loures, que encontrou albergue para a sua voz e vocação. "Um dia, numa reportagem que fiz durante a Volta a Portugal em bicicleta, o Costa Martins [da Antena 1] ouviu-me e convidou-me", resume. Foi lá que ganhou projecção internacional e passou a seguir os jogos da selecção nacional.

"Com 19 anos relatei o jogo entre o União de Almeirim e o Amora, na Rádio Seixal", relembra Carlos Dias. A partir daí calcorreou oito anos pelas rádios da margem sul até entrar para a RR.

Cada vez que entram num estádio de futebol para ocuparem a sua posição em campo levam a lição bem estudada. É com a leitura diária de jornais, visitas à Internet e com uma memória treinada desde cedo que preenchem os tempos mortos de jogo, onde o ritmo das palavras não pode abrandar.

"Temos que caçar as pessoas pelo ouvido", admite Alexandre e, por isso, quanto mais dinâmico for o discurso, mais garantias têm de ter um sucesso.

"Os ouvintes quando escutam um relato querem saber onde está a bola", diz Alexandre. Parece óbvio e fácil. Vamos experimentar: "Hélder cruza para a direita, Carlos faz a recepção na boca da grande área, remata, mas Alexandre defende..."

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