Volta, Jon Favreau
A tentação de eternizar o legado levou Obama a um discurso minimalista sobre a transformação que imprimiu aos EUA e excessivamente enfático num longo prazo que, objetivamente, já não irá controlar. Até porque um ano é uma eternidade em política e não faltam ações determinantes na história recente americana deixadas para o fim: Bush pai e o envio de tropas para a Somália, Clinton e a intervenção no Kosovo, Bush filho e a negociação do calendário de retirada do Iraque. Dizer de forma magnânima, que "os EUA são a nação mais poderosa do mundo" não chega para traduzir o que Obama fez para recolocar os EUA nessa posição. Podia ter trabalhado com outro orgulho a redução do défice federal, a criação de emprego pelo 63º mês consecutivo, a redução para metade da taxa nacional de desemprego, a revolução energética que coloca a América (e potencialmente a bacia Atlântica) como pivô da geopolítica da energia, ou a chegada à assistência na saúde de 30 milhões de americanos. Tinha ainda todo o cabimento se reforçasse de outra forma os bloqueios republicanos à legislação restritiva no setor das armas e da imigração, ou vincado de outra maneira a clivagem entre o "mundo livre" e a proliferação de regimes iliberais, alguns já dentro de uma UE à deriva e foco de insegurança para Washington. Ou mostrar onde poderá levar o desanuviamento com Cuba, a Birmânia e o Irão. E a partir daqui, então, conceder nos limites da América e do seu presidente na resolução dos problemas externos e cumprimento de todas as promessas em casa. Da perda de mão na Ucrânia e Médio Oriente, do excessivo entusiasmo pós-Bin Laden à desvalorização inicial do ISIS. É caso para dizer que desde que Jon Favreau saiu da Casa Branca a eloquência narrativa de Obama perdeu gás, ao contrário do país. É pena. Sem sobrevalorizar o legado fica mais difícil projetar a sua eternidade.