Volkswagen. Alemanha tem quase 3 milhões de carros com emissões falseadas

Governo alemão revela que veículos comerciais da Volkswagen também foram 'falseados'. França tem mais de 1 milhão de carros afetados. O truque é usado por oficinas portuguesas. Os anúncios de venda de carros Volkswagen triplicaram.
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O ministro dos Transportes alemão, Alexander Dobrindt, afirmou hoje que são cerca de 2,8 milhões de veículos do grupo Volkswagen na Alemanha que estão equipados com os dispositivos que permitem falsear os testes de emissões poluentes.

"Pelo que sabemos atualmente, os dispositivos afetam não só os automóveis de passageiros, mas também os pequenos veículos comerciais da Volkswagen", afirmou Alexander Dobrindt, citado pela agência de notícias alemã DPA.

A empresa admitiu no início desta semana que 11 milhões de seus veículos a gasóleo em todo o mundo estão equipados com o 'software' que falseia os controlos de poluição quando o carro está em teste e desliga quando está em modo de condução.

Ainda hoje o construtor alemão vai publicar uma lista com os veículos afetados em todo o mundo pela manipulação de gases poluentes em motores a diesel.

O truque é usado por oficinas portuguesas

Existem dezenas de oficinas em Portugal que retiram os filtros de partículas dos motores dos veículos a diesel, conta esta sexta-feira o Jornal de Notícias. O esquema ilegal permite poupar dinheiro nos custos de manutenção dos motores destes automóveis, mas faz com que os veículos poluam descontroladamente.

O esquema ilegal, revelado pelo JN, não é detetável nas inspeções periódicas. O filtro de partículas do motor retira do fumo de escape alguns dos poluentes perigosos que são libertados pelo motor a diesel. Quando este é removido, prática comum em dezenas de oficinas, esses poluentes são expulsos para a atmosfera.

Revelados números em Franca

A Volkswagen vendeu em França quase 1,07 milhões de carros a diesel equipados com o dispositivo que permite manipular os resultados das emissões poluentes, revelou hoje a rádio France Info.

Os carros afetados comercializados em França entre 2009 e junho deste ano foram, em concreto, 1.068.796, indicou a emissora, com base em cálculos da sociedade de análise do setor Inovev.

Vender, vender, Vender

O impacto do escândalo das emissões poluentes da Volkswagen chegou a Portugal. Nesta semana, o número de anúncios online de venda de carros da marca alemã triplicou face às últimas seis semanas, apesar da mensagem de tranquilidade que o governo e a Autoeuropa têm tentado passar.

A resposta dos stands físicos contactados pelo DN/Dinheiro Vivo foi unânime: quem pode dizer se as vendas da VW vão ser afetadas é o importador da marca. Contactado pelo DN/Dinheiro Vivo, o grupo SIVA não quis adiantar mais comentários sobre o caso. Mas o Standvirtual, o maior portal em Portugal de compra e venda de carros, deixa antever as consequências da polémica: nesta semana, foram publicados mais de 450 novos anúncios de venda da marca VW, um aumento de 216% face à média registada nas últimas seis semanas. Ao mesmo tempo, os contactos feitos para compra de carros VW aumentaram mais de 40%. Os responsáveis do portal salientam que "não é possível concluir que estes resultados estejam diretamente relacionados" com o escândalo das emissões, mas os dados parecem refletir as previsões de que os modelos afetados pela fraude vão ficar desvalorizados.

Isto apesar de, para já, não haver informação de que haja carros afetados em Portugal. Só hoje é que a VW vai publicar uma lista dos carros sujeitos a manipulação de gases poluentes em motores a gasóleo, bem como onde foram vendidos. Em causa estarão 11 milhões de carros, equipados com um motor EA 189 e fabricados entre 2009 e 2015. Por cá, o ministro da Economia, Pires de Lima, assegurou que "os veículos produzidos em Portugal não tiveram incorporação do kit fraudulento", salientando, ainda, que "a generalidade dos veículos produzidos na Autoeuropa são exportados". Ainda assim, disse, o governo está "a trabalhar com o Instituto da Mobilidade e dos Transportes [IMT] para efetuar os controlos necessários e perceber se há alguma implicação desta fraude em Portugal".

Dia de decisões na VW

O presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, foi a primeira baixa no escândalo das emissões, cinco dias depois de o caso ter sido conhecido. O líder demissionário cedeu aos "interesses da marca", mas não vai de bolsos vazios: entre indemnizações, prémios e pré-reforma, Winterkorn poderá receber cerca de 60 milhões de euros.

A administração da Volkswagen reúne-se hoje para decidir o futuro da empresa e, para já, segundo a Reuters, sabe-se que o diretor executivo da marca nos EUA, Michael Horn, será demitido. Os diretores de Inovação e Desenvolvimento (I&D) da Audi e da Porsche, Ulrich Hackenberg e Wolfgang Hatz, terão o mesmo destino.

Falta saber quem irá suceder a Winterkorn. Matthias Müller, presidente executivo da Porsche, Herbert Diess, diretor de marca da VW, e Rupert Stadler, CEO da Audi, são os três nomes apontados. Müller é o favorito (ver fotolegenda).

Polémica vai afetar economia

Enquanto a gigante alemã tenta minimizar os estragos, o caso tomou proporções que fogem do seu controlo. O ministro dos transportes alemão já disse que as manipulações não se limitam aos EUA e que afetam os carros a gasóleo em toda a Europa, enquanto a Comissão Europeia pede aos Estados membros que conduzam investigações a nível nacional. França até já respondeu ao apelo e vai testar cem automóveis para descobrir se têm o software fraudulento.

Perante este cenário, os analistas antecipam que a economia da zona euro não vai passar ao lado da polémica. "O escândalo vai ter impacto na indústria automóvel europeia de várias formas. Primeiro no volume de vendas, já que os carros a diesel representam 50% de todas as vendas de carros novos na Europa", diz ao DN/Dinheiro Vivo Anna-Marie Baisden, analista da BMI Research. "A confiança dos consumidores" também sai afetada, se "sentirem que foram deliberadamente enganados e que outros fabricantes fizeram o mesmo", acrescenta. A analista acredita, por isso, que "outras marcas poderão vir a ser implicadas na polémica" e que o escândalo vai ter repercussões na economia. "Qualquer reestruturação, cortes de custos ou de postos de trabalho serão negativos" não só para a Alemanha, mas para países como a Polónia, a Eslováquia e os da Europa Central.

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