Vitória no Europeu e rigor financeiro incentivam aposta nos jovens

Os três grandes já estrearam 12 jovens com 20 ou menos anos nesta temporada. Luís Vidigal, Isaías e Jaime Magalhães explicam as razões
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São 12 os jogadores com 20 ou menos anos que os três grandes já estrearam em jogos da primeira equipa nesta temporada. Um número que dá confiança aos mais jovens e que surge pouco mais de um ano depois de Portugal ter conquistado o último Campeonato da Europa. Será, certamente, uma das razões para esta aposta, mas também o aspeto financeiro terá sido bastante importante, dizem ao DN alguns ex-futebolistas e internacionais portugueses.

O Benfica foi aquele que mais jogadores estreou até ao momento com 20 ou menos anos. Rui Vitória desde há duas temporadas que tem olhado bastante para as camadas jovens do plantel e até ao momento, desde agosto, estreou Svilar, Rúben Dias, Diogo Gonçalves, Keaton Parks e João Carvalho. Estes últimos dois só jogaram na Taça de Portugal, mas os outros três têm sido apostas regulares e como titulares. Isaías, ex-jogador do Benfica, não tem dúvidas de que esta aposta muito se deve ao trabalho feito no futebol português.

"O Europeu foi a prova de um projeto pensado para o futebol português. Os jovens começaram a ser trabalhados de uma outra forma, mais a longo prazo, e agora o sucesso está aí", disse ao DN o brasileiro, que vê o futuro risonho para os três grandes, apesar do aspeto financeiro dos clubes portugueses

"Têm miúdos com grande potencial, uma estrutura mais profissional e com melhores recursos. Mesmo que vendam agora uns, outros estão a aparecer, porque o trabalho agora estará mais centrado nas academias. Quando vi a do Benfica fiquei maravilhado, é tudo muito profissional. O facto de o dinheiro ser menos para os grandes também os levou a trabalhar neste sentido e não se pode ver isso como uma coisa negativa. O jogador português é dos melhores do mundo", referiu.

Logo após Rui Vitória, é o seu homólogo do FC Porto, Sérgio Conceição, que mais oportunidades deu a jovens sub-20. Foram quatro os eleitos, ainda que no caso dos azuis e brancos apenas Wenderson Galeno tenha sido aposta do seu treinador para o campeonato nacional. Jaime Magalhães, também ele um ex-portista, começa por destacar o sucesso das jovens seleções como sinal de partida.

"É claro que a conquista do Campeonato da Europa em 2016 foi bastante determinante, mas se recuarmos um pouco temos também o grande trabalho feito pelo Rui Jorge nos sub-21, pelo Peixe nos escalões inferiores, e ainda outros. São sucessos atrás de sucessos, que têm também de ser partilhados com os clubes, que estão também a fazer um excelente trabalho nas camadas jovens. Há uma maior aposta na formação em todos os aspetos, tanto a nível técnico como de infraestruturas, os clubes perceberam que os poucos milhões que podem gastar têm de ser dentro de casa, para apetrechar os jogadores com as melhores ferramentas de trabalho", considerou o antigo internacional português.

O Sporting surge na terceira posição no que a estreias dizem respeito. Apenas três e todas elas em jogos da Taça de Portugal. Ainda assim, "podiam ter ido ao estrangeiro buscar outros jogadores mais experientes, mas preferiram o produto da casa", diz Luís Vidigal, destacando então o lado financeiro desta nova forma de os três grandes olharem para o futebol.

"As dificuldades de ir ao mercado são cada vez maiores. Os tubarões europeus têm uma capacidade financeira diferente, assumem uma fatia grande das contratações, e os restos, se me permitem a expressão, serão então das equipas mais pequenas. Perante este cenário, os clubes portugueses perceberam que era preciso apostar na formação. Hoje, as academias e as qualidades das infraestruturas fazem que essa aposta possa ser uma realidade", assinalou o ex-jogador, comparando com os seus tempos: "Antes também havia muitos e bons jogadores jovens, mas havia mercados, como o brasileiro, onde existiam jogadores mais experientes e baratos. Agora já não é assim, os bons são muito caros. Os tubarões chegam antes e mesmo que não cheguem antes chegam com mais dinheiro."

O aspeto financeiro não é esquecido também por Jaime Magalhães, mas este vê o lado positivo da falta de milhões, concretamente uma "ajuda" para os selecionadores nacionais.

"O facto de estes não estarem a atravessar um bom momento financeiro também ajuda a trabalhar-se mais e melhor dentro das nossas casas. Antigamente era mais fácil para os grandes irem lá fora e trazerem jogadores da América do Sul, mas agora esta situação é positiva porque permite uma maior consciência por parte dos grandes. Os jogadores portugueses são sempre muito mais acessíveis, torna-se cada vez mais complicado ir buscar melhores futebolistas lá fora, essencialmente melhores do que aqueles que estão cá. Apostar em jogadores portugueses é bom para o futebol e sobretudo para os selecionadores nacionais, que passam a ter mais e melhores opções", referiu.

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