Vítimas de tráfico sexual. Quando o sexo não é sexy

Socióloga diz que só em casos excecionais as mulheres traficadas se integram. Voltam quase sempre aos países de origem
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Mara Clemente, investigadora social, entrou numa casa abrigo para vítimas de tráfico de seres humanos, em Portugal, e foi confrontada com as experiências de duas mulheres e de um homem que tinham sido explorados para fins diferentes. Só uma das mulheres era vítima de tráfico sexual. Nessa investigação ainda em curso, Mara Clemente, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) do ISCTE, já está a constatar uma realidade: "As mulheres traficadas para exploração sexual só em casos excecionais se integram na sociedade portuguesa. Na maior parte das vezes, quando conseguem sair do circuito de exploração, voltam para s seus países de origem, para as mesmas situações em que estavam antes".

A investigadora considera que são necessárias políticas públicas mais adequadas às necessidades das pessoas traficadas para fins sexuais. "O sexo não é sexy?" é o desafio irónico de Mara Clemente na sua intervenção agendada para a próxima terça-feira, em Lisboa, na conferência internacional que organizou sobre políticas e práticas de gestão da prostituição e do tráfico para exploração sexual.

De acordo com os dados mais recentes do Observatório do Tráfico de Seres Humanos do Ministério da Administração Interna (OTSH/MAI), analisados por Mara Clemente para o Observatório da Emigração - onde é investigadora associada -, foram sinalizadas em Portugal 1110 pessoas traficadas, entre 2008 e 2014. Cerca de 59% delas são mulheres. Mas o tráfico de seres humanos tem uma particularidade em Portugal: "Em geral, a tendência na Europa é de uma presença dominante do tráfico de mulheres para exploração sexual. Em Portugal, passa-se o contrário: a tendência é de vítimas homens para fins de exploração laboral".

A investigadora Mara Clemente espera que a conferência internacional ajude a responder a dúvidas sobre a capacidade que há de assistência às vítimas de exploração sexual e de integração das mesmas, "uma vez que nem sempre correspondem à ideia de vítima estereotipada".

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