Vistas largas para o Rio
Eike Batista sabe que desejar as coisas com vontade é o primeiro passo para concretizá-las: tem sido assim desde que extraiu o seu primeiro milhão das minas de ouro da selva amazónica e o investiu, todo ele ousadia e tacto, até se tornar o empresário mais rico do Brasil. Hoje, porque a prática de pensar em grande só foi ficando mais forte com o tempo, Eike tem dois novos objectivos e revela-os sem vergonha que lhe possam chamar louco. 1. Transformar o Rio de Janeiro num dos lugares mais dinâmicos e influentes a nível internacional, agora que o Brasil irá receber o Mundial 2014 e os Jogos Olímpicos 2016. 2. Ser o homem mais rico do mundo. Nem o céu é o limite para alguém que já vê a Cidade Maravilhosa como uma mistura de Califórnia, Nova Iorque e Houston.
«Se eu olhar para o Rio daqui a dez, 15 anos, será inacreditável», garantiu, em entrevista ao The Guardian, o empresário de 53 anos, preparado para investir (por intermédio da holding EBX, que controla) cerca de 26 mil milhões de euros na cidade nos próximos dois anos, construindo portos, fábricas e procurando petróleo. «Será uma mistura de Califórnia, Nova Iorque e Houston, combinando praias estonteantes com importância financeira e uma arquitectura ultramoderna», conta o magnata brasileiro. Eike tem ainda planos para a construção da Cidade X, uma estrutura digital moderníssima, desenhada para 250 mil pessoas pelo urbanista Jaime Lerner, a erguer a cerca de 240 quilómetros do Rio.
Filho de uma alemã, com quem viveu no seu país natal dos 12 aos 23 anos, e do empresário Eliezer Batista da Silva, ministro das Minas e Energia no governo de João Goulart, e descendente de imigrantes portugueses (os pais ainda tinham os nomes bem característicos de José Batista da Silva e Maria da Natividade Pereira), Eike fez três anos de engenharia na Universidade de Aachen antes de decidir que o curso era aborrecido e desistir dos estudos, trocando-os pela venda de seguros porta a porta. Do pai não herdou a cautela e o conservadorismo, pelo contrário, mas reteve a visão empreendedora e começou a carreira intermediando a venda de diamantes e de produtos estrangeiros com negociantes europeus e africanos. Aos 25 anos já tinha conseguido reunir um património de seis milhões de dólares. No início dos anos 1990, dono de uma quantidade considerável de minas, viu a canadiana Treasure Valley interessar-se pelo negócio e dar-lhe uma participação de 11 por cento na empresa em troca das minas no Brasil.
Desde então, o rapaz assumiu o gosto pelo risco e dedicou-se a criar novos empreendimentos, desdobrando-se pela mineração, a siderurgia, os recursos hídricos, a energia, as encomendas expresso, a construção naval, o sector imobiliário e o entretenimento, com empreendimentos como o Hotel Glória (o primeiro cinco estrelas do Brasil, caído pelo êxodo económico resultante da violência na cidade, mas a reabrir no último trimestre de 2011 com o nome de Gloria Palace Hotel e tudo o que há de mais moderno em matéria de tecnologia, segurança e conforto) e o restaurante Mr. Lam, ambos no Rio.
Os próximos projectos de Eike para aquela que ele quer a capital do mundo incluem a limpeza da lagoa Rodrigo de Freitas (um dos principais cartões-postais do Rio), a recuperação da marina da Glória (revitalizada como pólo desportivo e turístico) e um cruzeiro de luxo para turistas que queiram perder-se de amores pelas magníficas paisagens da baía da Guanabara. Enquanto patrocinador da candidatura do Rio a organizador dos Jogos Olímpicos de 2016, o empresário contribuiu ainda com mais de sete milhões de euros para a campanha e deu outros 45 milhões de euros para ajudar ao financiamento das Unidades de Polícia Pacificadora nas favelas.
«Vivemos tempos difíceis, economicamente falando, mas mesmo assim vemos mais generosidade entre os brasileiros das classes pobres do que entre os das classes média e alta, o que me envergonha», critica Eike Batista, considerando a transparência e o desejo de ajudar o próximo essenciais para o desenvolvimento, ele que se orgulha de dar o flanco e de não se esconder da pessoa que é ou da fortuna que tem. «A maioria da população mais rica do Brasil vive noventa por cento das suas vidas no país, mas poupa dinheiro para consumir em Nova Iorque, Miami, Londres ou Paris. Vamos mudar as coisas», defende, convicto, o brasileiro que é rotulado de extravagante e não se incomoda. «Isto aqui é o paraíso.»