Visão estratégica e competência na gestão pública
Em Portugal, o conjunto dos diversos casos mediáticos relativos ao exercício de cargos públicos não podem deixar de convocar uma reflexão sobre as exigências da gestão e da governação pública.
Há muito que a ética e a responsabilidade social constituem um dos importantes activos de valorização das organizações, também associada ao desenvolvimento sustentável, sendo a Corporate social responsability uma preocupação crescente nas organizações. Ora, ao nível da gestão da coisa pública, essa exigência de transparência e de escrutínio público deverá ser especialmente reforçada, quer na transparência no recrutamento de candidatos para cargos de direcção superior da administração central do Estado e cargos a estes equiparados quer no escrutínio dos próprios actos de gestão e negócios públicos.
Além disso, partindo da ideia - central na gestão - de que importa referenciar, validar e fazer evoluir as competências destes profissionais, cabe assegurar (e implementar efectivamente) nas organizações públicas um modelo de gestão que promova a visão estratégica e a mobilização efectiva das competências dos trabalhadores numa perspectiva dinâmica, exigindo a sua avaliação.
Seleccionar pela competência e pelo reconhecimento do mérito representa uma verdadeira condição da própria lógica de gestão dos recursos humanos e exige hoje a capacidade de promoção de uma organização capaz de responder às diversas pressões, através de uma visão estratégica e capacidade de implementação, assim como uma gestão eficiente dos recursos financeiros e humanos das organizações públicas.
Especialmente no que diz respeito à selecção para cargos da Administração Pública, urge seleccionar as pessoas mais qualificadas, evitando um aumento da erosão da confiança nas instituições públicas. A Administração Pública e a área da governação necessitam de uma visão de gestão estratégica que esteja, simultaneamente, atenta às aceleradas mudanças sociais e tecnológicas e capaz de ajudar a promover a inovação no tecido empresarial nacional, através de um conjunto de estímulos à inovação sectoriais.
Sobre as exigências de competência para a gestão pública termino, para reflexão, com uma interessante crítica do ensaísta português do século XX, António Sérgio, no seu Ensaios-I, p. 229, sobre a importância da selecção da competência para os cargos dirigentes públicos: "Não tinham noção dos problemas que lhes competia resolver. (...) Os homens de algum valor foram logo para o cesto dos indesejáveis, antes de estabelecida, portanto, já na nossa "democracia" se realizara (com dor dos seus partidários mais conscientes) a selecção da incompetência".
Professora universitária e investigadora