Violinista belga 'Ao Largo' e mais além
Visitou Portugal só por uma vez, "com os meus pais, mas era muito pequena e não tenho memórias...". Chama-se Camille Babut du Marès e é uma jovem artista em ascensão no panorama violinístico. Esta noite toca no Largo de S. Carlos o famoso Concerto em mi m, op. 64, de Mendelssohn, ao lado da Orquestra Sinfónica dos Estudantes de Lovaina-a-Nova (OSEL), dirigida por Philippe Gérard. "Foi o Philippe quem sugeriu a obra e eu aceitei de imediato. É um concerto muito belo, muito bem escrito para o solista e para a orquestra e é imensamente gratificante, quer para os músicos, quer para o público". Uma obra quase demasiado famosa? "Não penso assim. É tocado com frequência, mas não se pode dizer que seja um 'hit' da música clássica e, mesmo entre os concertos para violino, é menos tocado que os de Tchaikovsky, Brahms ou mesmo Sibelius". Enquanto intérprete, Camille esclarece: "a partitura de Mendelssohn é extremamente clara, tudo está escrito: acentos, fraseio, etc., e o uso do vibrato faz-se segundo aquilo que é a paleta romântica. Por isso, a minha abordagem à obra faz-se mais a partir de um compromisso de três fatores: reflexão que eu fiz sobre a obra e o seu amadurecimento em mim; espontaneidade, naturalidade da execução; e a minha reação às circunstâncias específicas do momento". E com esta última, há um equilíbrio específico: "sim, pois ao mesmo tempo que estou dentro de uma 'bolha', fruto da concentração exigida pela 'performance', eu também sou extremamente reactiva ao comportamento e atitude do público".
Se a Orquestra com que se apresenta hoje é uma estreia para ela, o maestro é um velho conhecido: "conheço o Philippe desde pequena, toquei com ele um Concerto de Mozart quando tinha 14 anos. Depois disso, fizemos já numerosos concertos juntos e acho mesmo que ele é o maestro com que mais vezes toquei!" À Orquestra não poupa elogios: "é preciso sublinhar que não é uma orquestra de músicos profissionais, mas sim de estudantes, com alguns professores da Universidade. São portanto pessoas que querem mesmo tocar e estão ali porque têm um imenso desejo de o fazer. Acho que isso é bestial e deveria ser não só encorajado, como multiplicado noutras instituições".
Apesar do que possa parecer, atuar com orquestras não é o que Camille mais faz: "o que faço com mais frequência são recitais, acompanhada ao piano. Tenho um duo com uma pianista de origem japonesa e no próximo ano vou começar outra parceria com um pianista belga. É o que me dá mais prazer, pois posso explorar um repertório quase ilimitado, não só de sonatas para violino e piano, como de peças virtuosísticas para violino solo". Mas não só com piano: "também costumo tocar num trio de cordas e num trio com violoncelo e piano. Tudo somado, é um atividade muito intensa!" No que se refere a peças solo, refere-nos que "em outubro, vou tocar num concerto privado para a rainha algumas sonatas de Ysaÿe [compositor belga]".
Entre os seus colegas que mais admira, refere primeiro só mulheres: "Julia Fischer, que adoro; a Hilary Hahn, que tem uma postura muito 'sui generis', mas fascinante; a Janine Jansen, a Isabelle Faust..." Entre os colegas masculinos, refere os nomes de Itzhak Perlman e Maxim Vengerov.
Depois do verão, o evento que Camille escolhe entre os seus próximos compromissos é "a Sinfonia Concertante [para violino, viola e orquestra, KV364] de Mozart, que vou tocar em setembro. É uma das obras de que mais gosto e o andamento lento central é talvez o trecho mais belo que conheço! Pena que seja só um concerto...", lamenta-se.
Hoje, amanhã e no sábado, são três os que faz em Portugal.
Programa
Gioacchino Rossini - Abertura 'A Italiana em Argel'
Felix Mendelssohn - Concerto para violino
César Franck - Sinfonia em ré menor
A OSEL, Philippe Gérard e Camille Babut du Marès repetem amanhã à noite (21.30) o programa que hoje apresentam. Será no Auditório da Boa Nova, no Estoril, integrado no 41.º Festival de Estoril Lisboa. No sábado, despedem-se com um concerto no Auditório Vianna da Motta, na Escola Superior de Música de Lisboa (Benfica).