Vinte anos depois, o Sudoeste é um novo festival

Foram 147 mil as pessoas que passaram pela Herdade da Casa Branca, numa imensa festa de verão onde se junta música e multidão
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É caso para dizer que o melhor ficou mesmo guardado para o fim, com as atuações dos ingleses Jamiroquai e do português Dengaz, a quem coube o encerramento dos concertos no palco principal do Meo Sudoeste deste ano.

Do grupo liderado por Jay Kay, já há cerca de sete anos ausente dos palcos portugueses, apenas se pode dizer que foi igual a si próprio. E não haverá melhor elogio a fazer a uma banda cuja carreira atingiu o ponto mais alto vai para quase 20 anos, mais ou menos pela altura em que se estrearam neste mesmo festival, em 2003.

É certo que o tempo se notou nos movimentos em palco do carismático vocalista, já não tão veloz, mas em compensação a voz mantém-se tal e qual. "Estivemos muito tempo sem nos ver", lembrou o cantor logo no início do concerto. O público sabia disso e apesar do arranque um pouco morno, devido aos temas do novo álbum, Automaton, editado há menos de meio ano, depressa a festa esperada aconteceu, com a sucessão de êxitos que todos desejavam ouvir, como Little L, Space Cowboy, Cosmic Gir, Virtual Insanity, Canned Heat e Love Foolosophy, esta última uma das mais aplaudidas e à qual se seguiu um curto encore.

A atuação dos Jamiroquai teve ainda o condão de atrair para a frente do palco toda uma nova faixa de público, neste caso mais velho e praticamente invisível ao longo dos restantes dias de festival, que quase voltaria a desaparecer tão rapidamente como surgiu, quando o grupo britânico deu o lugar no palco ao português Dengaz.

Mais uma vez, o rapper de Cascais mostrou por que é atualmente um dos artistas de maior sucesso em Portugal, ao agarrar de imediato o público com músicas que todos conhecem e canta de início ao fim. Acompanhado da sua banda de sempre, a Ahya Family, contou com a presença de vários convidados, como o rapper Plutónio ou o músico brasileiro Seu Jorge, com quem interpretou o dueto Para sempre, naquele que foi um dos momentos altos desta última noite.

Mesmo com as excelentes atuações dos Jamiroquai e de Dengaz e como sempre aconteceu ao longo de todo o festival, sempre que o palco principal não era ocupado por um DJ, o recinto nunca pareceu estar cheio - apesar das 147 mil pessoas que, segundo os números da organização, passaram pelo festival entre quarta e sábado. A explicação parece ter que ver com a própria mudança de paradigma do Sudoeste e do público cada vez mais jovem que o frequenta, para quem a música é apenas um meio e não um fim, para uma imensa festa de verão entre amigos.

Daí que a zona do campismo esteja sempre cheia, mesmo quando no palco principal atuam aqueles que, à partida, seriam os cabeças-de-cartaz do festival. E que o recinto apenas encha a sério quando se ouvem as primeiras batidas dos DJ. Mais do que a música, é "o convívio e a experiência", como sublinha Luís Montez, da Música no Coração, o que atualmente atrai o público ao Meo Sudoeste.

Para a história desta edição comemorativa dos 20 anos do Sudoeste ficaram no entanto vários momentos, como a atuação de Mishlawi, um jovem rapper americano radicado em Portugal, a passar com distinção o sempre difícil teste do palco principal ou as peripécias da primeira atuação em território nacional de uma das maiores estrelas do hip-hop americano, Lil Wayne, que quase não se concretizou devido a problemas no voo privado vindo dos Estados Unidos.

Conforme o DN apurou, o concerto apenas se realizou, apesar de já passar das quatro da madrugada quando começou, devido à insistência do artista de Nova Orleães em estar presente no Sudoeste, mas que mesmo assim não se livrou de uma valente assobiadela, quando, cerca de 50 minutos depois, abandonou o palco, dando por concluído o espetáculo.

De realçar também a repetição da curadoria dos Orelha Negra na sexta-feira, naquela que foi uma das melhores noites de todo o festival no palco Moche; ou também o sucesso da festa de receção ao campista, desta vez num palco dentro do próprio campismo, onde mais de 20 mil pessoas assistiram à atuação do português DJ Ride, mais uma vez a provar que não é preciso tocarem todos o mesmo para fazer o público vibrar. Este é de facto um festival diferente daquele aqui nascido há 20 anos, no qual o DJ parece ter matado em definitivo a estrela rock, mas há aspetos que se mantêm imutáveis, como as vivências e as recordações daqui levadas.

Como já por diversas vezes foi referido, "este é um festival sem pai nem mãe" e para muitos dos presentes esta é a primeira vez nas suas vidas em que tal acontece. É um espaço de liberdade, com todos os excessos, responsabilidades e consequências inerentes a tal facto e é a essa luz que o fenómeno Meo Sudoeste deve ser entendido - e já não tanto pela música.

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