Vinhos portugueses sabem esta 2.ª feira se são alvo das tarifas de Trump
A Organização Mundial do Comércio (OMC) deverá dar esta segunda-feira razão, pelo menos em parte, à administração de Donald Trump na guerra com a União Europeia, autorizando o agravamento de tarifas alfandegárias sobre produtos europeus.
Durante o fim de semana, agências internacionais e alguns meios norte-americanos de comunicação social apontavam para uma subida das tarifas a rondar os 6,8 mil milhões de euros por ano (7,5 mil milhões de dólares), mesmo assim longe dos 10,2 mil milhões de euros inicialmente propostos pela Casa Branca, numa lista publicada no passado dia 12 de abril.
O processo foi aberto na OMC com os Estados Unidos a alegarem ajudas públicas ilegais à construtora aeroespacial Airbus, violando as regras do comércio internacional. Os árbitros reúnem-se em Genebra, na Suíça, a partir das 9 da manhã, hora de Lisboa, para decidirem sobre os argumentos invocados por Washington.
O veredicto marcará o futuro das relações comerciais - e políticas - entre os dois blocos, uma vez que a União Europeia também apresentou uma queixa semelhante por alegados subsídios públicos ilegais à Boeing, publicando uma lista com um agravamento das tarifas em 10,9 mil milhões de euros - desde o ketchup, calças de ganga ou consolas de jogos. Neste caso, a decisão final da Organização Mundial do Comércio apenas é esperada para a primeira metade do próximo ano.
A lista final de produtos afetados por essas tarifas suplementares ainda é desconhecida, mas, da proposta inicial apresentada pela administração Trump, há alguns que são exportados por Portugal e que, no caso do vinho, tem maior peso - sobretudo os verdes. Mas também os queijos e o azeite.
Mas vamos por partes. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), no ano passado o valor das exportações de vinho para os Estados Unidos atingiu 80,8 milhões de euros, correspondendo a 10% do total vendido ao exterior. Neste valor estão incluídos apenas os vinhos de uvas frescas e espumantes.
O mercado norte-americano é o segundo mais importante, depois do francês, para onde o país exportou mais de 114,4 milhões de euros, representando 14,3% das vendas totais.
Mas é na categoria dos vinhos verdes que o impacto poderá ser maior, caso se confirme a lista inicial. Neste caso, os EUA são os primeiros clientes. No ano passado foram vendidos cerca de cinco milhões de litros, correspondendo a 13,3 milhões de euros de vendas e até julho, já chegavam a 3,7 milhões de euros.
"É com alguma preocupação que acompanhamos este caso", afirma Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), em declaração ao Dinheiro Vivo. Mesmo assim, está confiante. "O sentimento é muito positivo, sobretudo com o Japão", acrescentando que também a Alemanha apresenta um bom comportamento, "com um crescimento de 3%", sendo o segundo maior mercado em termos de vendas, com valores acima de 11 milhões de euros.
Na Europa, o problema é mesmo o Reino Unido e o que vai acontecer com o Brexit. Os ingleses são o sexto maior mercado do vinho verde português.
Com uma importância mais diminuta, também estão produtos como os queijos e o azeite. No primeiro caso, de acordo com os dados do INE, Portugal exportou no ano passado queijos e requeijão para os Estados Unidos no valor de 2,6 milhões de euros, uma pequena parcela de 7,2% do total de exportações.
Já no caso do azeite, o peso das vendas ao mercado norte-americano é ainda mais pequeno, representando cerca de 1% do total de vendas ao exterior. Neste produto, o mercado brasileiro é o mais importante, absorvendo cerca de um terço das exportações nacionais de azeite.
A lista provisória apresentada pela Casa Branca inclui outros produtos que podem afetar as exportações nacionais como é o caso de aeronaves e partes de aparelhos que valeram a Portugal no ano passado mais de 74,9 milhões de euros, representando 24,3% das vendas totais destes produtos ao exterior.
Paulo Ribeiro Pinto é jornalista do Dinheiro Vivo