Vinho da Madeira? Claro, Mr. Jefferson

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Faz 240 anos que foi assinada a Declaração de Independência dos Estados Unidos. Aconteceu no Independence Hall, edifício de tijolo vermelho que ainda existe na baixa de Filadélfia. E o brinde nesse 4 de Julho de 1776 foi feito com vinho da Madeira, o preferido de Thomas Jefferson, que redigiu o documento (e de George Washington, que seria o primeiro presidente). Parece-me boa prova da ligação a Portugal a que estava destinado o novo país. Seríamos vizinhos se o Atlântico não estivesse pelo meio. Lisboa e Washington estão à mesma latitude.


Falemos do início. Antes até de haver colónias britânicas. Dois navegadores portugueses andaram por lá no século XVI, ambos ao serviço de Espanha, João Cabrilho descobrindo a Califórnia, Estêvão Gomes navegando junto a Manhattan, batizando de Santo António o rio Hudson. Passadas décadas, outro português entraria na história da futura Nova Iorque, um tal João Rodrigues. Nascido nas Caraíbas, de mãe angolana e pai português, serviu na marinha holandesa, foi abandonado junto a Manhattan, e acabou por ter filhos com uma índia. Chamado por vezes Juan Rodríguez, por ter nascido na República Dominicana, ou Jan Rodrigues, à holandesa, tem um mural no Harlem.


Por falar em figuras extraordinárias, que dizer de Peter Francisco, herói da Guerra da Independência? Era um colosso de dois metros, que chegou criança à América. Foi descoberto sozinho num porto da Virgínia falando uma língua que alguém percebeu ser português. Historiadores posteriores descobriram ser dos Açores. Washington considerava-o um soldado excecional, o seu "Gigante da Virgínia".


Sublinhe-se ainda que fomos o terceiro país a reconhecer a independência americana, mas falemos de hoje. Estados Unidos e Portugal são aliados na NATO, mas seria absurdo resumir o estado das relações ao valor do investimento nas Lajes. Do ponto de vista económico, os americanos são o nosso quinto cliente e o décimo fornecedor, e a nível cultural as ligações são inúmeras, basta pensar na FLAD e na Comissão Fulbright. E se não se sabe ao certo quantos americanos vivem cá (dois mil?), é oficial que em 2015 os Estados Unidos foram os que mais investiram em imobiliário em Portugal.


E portugueses nos Estados Unidos? Dois milhões, contando os descendentes? Bem, o mais famoso luso-americano é Ernest Moniz, neto de açorianos e membro da Administração de Barack Obama. Mas antes dele outros brilharam, desde Emma Lazarus, cujo poema está no pedestal da Estátua da Liberdade, ao compositor John Philip Sousa, passando pelo juiz Benjamin Cardozo e o futebolista Billy Gonçalves. E sem esquecer John dos Passos, escritor com raízes na Madeira. E por falar na ilha, que tal neste 4 de Julho um brinde com o vinho amado por Jefferson?

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