Vingança do consumo, uma arma antiguerra

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Há quem considere que a revenge consumption é a nova frugalidade pós-covid. A expressão revenge spending ou revenge consumption, que em português significa "consumo por vingança", surgiu na década de 80 na China, relacionando o comportamento pós-Revolução Cultural ao crescimento súbito do consumo no país após a reabertura dos mercados. De repente, o consumo massivo eclodiu, após um período de longa privação de compras e visitas a espaços comerciais. Os economistas analisaram o movimento como uma tendência económica. No verão de 2021, essa teoria voltou a dar dar sinais vitais e agora, em 2022, está a entrar numa nova era.

Com o bom tempo de primavera-verão, os portugueses voltam a encher as ruas e esplanadas, como se vê de norte a sul do país, e voltam a consumir em grandes quantidades. Quase que acabou a depressão da procura e a oferta está atenta, perspicaz e a seduzir os consumidores no mundo físico e digital. Além disso, depois de confinados ou semiconfinados por mais de dois anos, os cidadãos anseiam por recuperar todo o tempo perdido, aproveitar melhor a vida, conviver com a família e os amigos. A vingança do consumo está à solta nas ruas, mas poderia estar muito mais se não fosse o impacto negativo da guerra na economia.

Presidentes executivos de empresas, governantes e líderes de muitas outras organizações que vou ouvindo, no âmbito das regulares entrevistas e reportagens para o Diário de Notícias, referem, em coro, que até há cerca de 100 dias estavam com altíssima expectativa quanto ao consumo e à forma como este poderia ajudar a recuperar as contas ainda fragilizadas pelos efeitos pandémicos dos últimos dois anos e, claro, pôr a economia a crescer mais.

A vingança do consumo era encarada como uma espécie de tábua de salvação até ao primeiro trimestre, mas hoje - assistindo à devastação da Ucrânia e à guerra das matérias-primas, alimentos e inflação - muitos já se questionam se será a arma eficaz e suficiente contra os efeitos do coronavírus SARS-CoV-2 e do conflito na Europa. Aliás, começam a temer que essa arma não dispare as balas suficientes nem certeiras para inverter dois anos negativos para muitos. Mesmo que não seja suficiente, será, certamente, uma arma fundamental para continuar a manter a cabeça à tona de água. Consumo e turismo serão o melhor material bélico aliado do crescimento para este ano e que o país não deve descurar.

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