A vinda a Portugal de três peritos da União Europeia (UE), para aconselhar as autoridades nacionais na prevenção e combate a incêndios, provocou tensão entre a recém-criada Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) e Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC). Os especialistas já chegaram a Portugal esta segunda-feira e vão permanecer por três semanas. São espanhóis..Com o verão à porta, estas estruturas de coordenação - a AGIF sob tutela do primeiro-ministro, a ANPC do ministro da Administração Interna - têm dado sinais de algum conflito entre si, o que está a motivar preocupação no setor. Junta-se o relatório ontem divulgado pelo Público, a revelar falhas graves no combate aos incêndios de Pedrógão (ver texto ao lado) e as críticas já feitas pelo presidente da Liga de Bombeiros, Jaime Marta Soares, ao comando da ANPC (acusou o Comandante Operacional Nacional de ser "prepotente" e "incompetente") e o início de "época de fogos" pode ser tudo menos pacífico..Fontes da Proteção Civil que acompanharam o processo dos especialistas estrangeiros, garantiram ao DN que a vinda dos técnicos foi "imposta" pela AGIF, presidida por Tiago Oliveira e que "nem a ANPC nem o próprio MAI concordaram com o formato utilizado". Esse "formato", de acordo com um ofício, a que o DN teve acesso, tratou-se de um pedido de auxílio com caráter de "emergência", dirigido ao mecanismo europeu de Proteção Civil, no passado dia 23 de abril. "Um pedido de ajuda internacional já nesta altura é um atestado de incompetência aos quadros nacionais", alega uma dessas fontes, não escondendo o desconforto com a alegada "prepotência" da AGIF..O requerimento à UE acabou por ser mesmo feito através da ANPC e foi invocado a "avaliação profunda em curso da proteção e defesa da floresta contra todo o tipo de ocorrências, que está a ser realizada, bem como a implementação de um conjunto de medidas estruturais para tornar o sistema mais robusto"..Presença ASAP.É escrito que o ministro da Administração Interna considerou da "maior importância promover uma missão de consultoria, composta por peritos da UE que possa, trazer o conhecimento europeu aos estudos que estão em curso e apoiar as autoridades portuguesas com responsabilidade nesta área. O objetivo desta missão é apoiar a identificação das medidas preparatórias e preventivas que podem complementar as medidas que estão a ser tomadas, identificar áreas críticas de intervenção, melhorar e consolidar procedimentos, bem como possivelmente redefinir o sistema nestes setores críticos"..É solicitada a presença "ASAP- as soon as possible" (o mais rápido possível) de um especialista em "meteorologia e comportamento do fogo" e de dois peritos em "prevenção e supressão" de incêndios florestais..Nem o gabinete do ministro Eduardo Cabrita, nem a ANPC, presidida pelo general Mourato Nunes, responderam às perguntas do DN sobre este assunto. Já Tiago Oliveira, que foi a escolha de António Costa para a AGIF, justificou a vinda destes peritos por ser "a forma mais rápida de injetar conhecimento no sistema"..O presidente desta entidade, doutorado em engenharia florestal diz que "não há no país um perito em meteorologia, com esta especialidade" e que os outros dois "vêm reforçar o conhecimento que existe, com novas técnicas e experiências.". Tiago Oliveira diz desconhecer que haja "tensão" na ANPC por causa desta decisão, mas reconhece que "em alturas em que é necessário introduzir mudanças é normal que existam pontos de vista diferentes. Mas acredito que todos querem contribuir e trabalhar em equipa. Estes processos fazem-se caminhando"..Outro sinal de mal-estar, de acordo ainda com as fontes da ANPC, aconteceu no âmbito da aprovação da Diretiva Operacional Nacional, em sede da Comissão Nacional de Proteção Civil, que decorreu a 16 de abril. Só nesse dia a AGIF apresentou as suas propostas de alteração, poucas horas antes da reunião. "Foi de tal ordem que o presidente da Liga de Bombeiros, Jaime Marta Soares, manifestou a sua indignação e exigiu que essas propostas não fossem tidas em conta", o que não aconteceu, segundo uma fonte que esteve presente. O DN tentou contactar, sem sucesso, Jaime Marta Soares.