Vilões com a mania que são heróis em novo filme de animação
Nuno Markl faz uma voz fininha e põe os dentes de fora (sem abocanhar) para dar vida à versão portuguesa do Sr. Picles, a personagem que interpreta no filme de animação "Os Monstros das Caixas". Já o Sr. Truta de Eduardo Madeira é "um tipo pesado, gordo e pachorrento". Juntos, complementam-se - um é mais nervoso e outro mais calmo - e, enquanto comparsas do Larápio (cuja voz é feita por Manuel Marques), têm a mania que são uns grandes heróis quando, na verdade, são os vilões da história.
"Tem os conceitos todos trocados", diz Eduardo Madeira sobre a personagem a que dá voz na versão portuguesa de "Os Monstros das Caixas", em exibição nos cinemas a partir de amanhã, quinta-feira, também com vozes de Rui Unas, Sónia Araújo e António Machado.
"É um filme um bocado gótico. Está mais próximo das coisas do Tim Burton do que da Disney ou da Pixar. É um universo mais rebuscado, mais inteligente, mais denso", analisa acerca desta produção, criada em "stop motion", técnica de animação fotograma a fotograma em que são usados modelos reais feitos de diversos materiais, sendo os mais comuns uma massa semelhante à plasticina.
"Picuinhas", como diz ser, Nuno Markl quis perceber qual o ambiente da história, pelo que leu o livro "Here be Monsters!", de Alan Snow, que serve de base ao filme da Laika, a mesma que esteve por trás de "Caroline e a Porta Secreta" ou "Paranorman". "Mergulhei num mundo novo. É um livro infantil, mas abrangente, com um humor irreverente", comenta.
Markl já perdeu a conta ao número de filmes que dobrou, desde "Por Água Abaixo", o primeiro, em 2006, quando estava ainda convencido de que seria um trabalho muito fácil. "Lembro-me que a adaptação foi danada. Cheguei lá com demasiada descontração", recorda.
Para fazer o Sr. Picles, o objetivo era dar o seu contributo sem trair a versão original, cuja voz é feita por Richard Ayoade. "Ele também é um caixa de óculos e tem uma maneira muito característica de falar", goza Markl, admitindo que chegou a achar que não seria capaz de fazer esta dobragem por se tratar de uma personagem tão diferente de si próprio.
Eduardo Madeira também admite que dar vozes é bem mais difícil do que se julga. "Uma das coisas de que tenho mais medo é de fazer vozes porque o meu humor é mais físico. Completo algumas dificuldades de dicção ou de voz, que é muito nasalada, com a expressão corporal", conta.
Sem nunca se ter cruzado com Nuno Markl ou com Manuel Marques neste trabalho, Eduardo Madeira conhece tão bem os dois que, diz, conseguiu imaginar a dobragem de cada um deles.
"Por mim, vivia disto", garante Markl sobre dar voz a personagens de animação. Defensor da existência das duas versões, para que o espetador tenha possibilidade de escolha, confessa que continua "a ser fã das versões originais", que lhe permitem "ouvir o trabalho de tipos geniais".
Genial é também, na sua opinião, a deixa final de "os Monstros das Caixas". "É a coisa mais hilariante que eu já vi num filme", promete. O facto de ser da sua personagem, o que lhe dá "orgulho e gozo", também contribui... Por isso, deixa um conselho: "Veja até ao fim, mesmo que as letras já estejam a passar".