Viktor Orban

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Depois de os socialistas terem caído em desgraça, Viktor Orban tem dado um curso intensivo sobre como não usar os dois terços de maioria parlamentar. Primeira lição: desprezar a oposição na revisão constitucional, formatando-a à maioria, tal como no caudal legislativo ordinário diário. Segunda lição: controlar a televisão e a agência noticiosa pública, com comissão nomeada para tutelar conteúdos e direções. Terceira lição: limitar a autonomia do Banco Central e do Tribunal Constitucional. Quarta lição: partidarizar maciçamente a administração pública, prolongando mandatos a duas e três legislaturas, abrindo uma caça às bruxas sobre antigas atividades comunistas ou sujeitando a liberdade religiosa à aprovação da maioria parlamentar. Quinta lição: aprovar uma nova lei eleitoral que mirra a representatividade dos partidos em favor de uma geografia absolutamente favorável ao Fidesz. Sexta lição: permitir que um dos poucos partidos que crescem, o Jobbik, tenha um braço armado focado na ameaça à comunidade cigana. Sétima lição: promover o nacionalismo além-fronteiras, dando direito de voto a quem tenha origem magiar, mesmo sem possuir cidadania húngara. É provável que a degradação financeira húngara acelere as negociações com a UE e o FMI para ajuda externa. O rating do país passou para "lixo" e foi evidente, há dias, a dificuldade com que colocou no mercado o montante da dívida fixado. Antecipando o pedido de ajuda, Orban acaba por maximizar todos os meios de negociação internacional: em troca de boas condições, ele renunciará a umas quantas medidas absolutistas. Chama-se a isto, cientificamente, sacanagem política. A Comissão e o FMI têm tentado impor-se. O PPE, família do Fidesz, em declaração da passada sexta-feira, tenta justificar sem condenar o que quer que seja. O silêncio cúmplice é o pior dos autorretratos.

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