Vieri faz 13.ª escala na Fiorentina
Ascenção e queda de um grande jogador. Podia ser esta a história de Christian Vieri, um dos mais prolíferos goleadores italianos de sempre. Podia, se já estivesse escrita. Embora envolta em casos e polémicas, lesões e depressões, e um certo dedo esticado à comunicação social, Vieri transformou-se numa espécie de lone ranger do futebol, jogador freelance, a soldo, de contrato precário em contrato precário. Reservará a sua história mais algum capítulo glorioso?
Por agora, assinou com a Fiorentina, o 13.º clube que representa, já que na Atalanta foi repetente. Esteja onde estiver, de Vieri espera-se sempre o mesmo: golos. Com 34 anos e uma série de lesões persistentes no seu joelho esquerdo, Vieri parece condenado a um final de carreira sofrível.
O seu longo historial remonta a 1989, no AC Prato, um modesto clube da Série C italiana. Começo tímido, já que apenas jogou seis jogos, sem feitos de registo, a não ser um indesmentível talento, que não escapou aos olheiros do Torino, para onde se mudou no ano seguinte. Era um poço de força, mas ainda inexperiente. O que lhe valeu nova transferência, desta vez para a Série B de Itália, para o Pisa Calcio. Registo: dois golos. Cada ano, cada transferência. Em 1993 rumou para o Ravenna, também da Série B. E foi aqui que o monstro goleador despertou. Nessa época, Vieri marcou 12 golos. O que não impediu que na época seguinte se transferisse para mais um clube da Série B, desta vez o Veneza, camisola com que registou onze golos.
Em 1994, com os joelhos a caminho da sua forma plena, o jovem jogador deu o grande salto para a liga principal italiana. A Atalanta apostou nele e ele não desiludiu. Acabou a época com sete golos, coisa que não está ao alcance de qualquer estreante na Série A. O salto para a Atalanta tornou-se pequeno. Em 1996, Vieri caiu na mira de um colosso. A vecchia signora vestiu-lhe a camisola. E, ao serviço da Juventus, o avançado não deixou créditos em pés alheios. Em 23 jogos, marcou oito golos, mais seis nas competições europeias.
Ainda assim, Vieri estava de novo de malas feitas. Com uma diferença: seria imigrante de luxo em Espanha, ao serviço do Atlético de Madrid.
Foi como se o Atlético de Madrid tivesse contratado uma autêntica artilharia, com pés e cabeça apontados para a baliza dos adversários. Em 24 jogos, Vieri fez só isto: 24 golos, tendo sido o melhor marcador do campeonato espanhol. Em 10 jogos em competições europeias, quase acertava a média: 7 golos. No Mundial de 1998 fez dupla histórica com Roberto Baggio na selecção italiana. E, depois desse Mundial, estava de regresso ao campeonato italiano, transferindo-se para a Lazio. Na sua primeira época "laziale" marcou 12 golos e ganhou a Taça das Taças. De modo que, no ano seguinte, novo contrato. O destino foi o Inter e o avançado italiano, coisa rara, esteve no clube até 2005. E também ele deixou no clube um recorde impressionante: Em 144 jogos, 103 golos. Na Squadra Azzurra, a máquina goleadora também deixara marca indelével: em 2004, no Campeonato Europeu das polémicas, ganhou fama de "desestabilizador", da qual nunca se livrou. Porém, tinha marcado 22 golos em 43 jogos ao serviço da selecção (viria ainda a jogar mais seis jogos e um golo). Nesse mesmo ano, Vieri seria eleito um dos 100 melhores jogadores de sempre da história do futebol.
Depois deste feito, a sua carreira começou a afundar-se. Ainda assim, afundou em direcção a outro colosso, o AC Milan, onde nada correu bem a Vieri. Em seis meses nunca conseguiu ser titular. Com o Mundial da Alemanha à porta, o avançado via a vida andar para trás. Antes de terminar a época em Itália, Vieiri, sem oposição do Milan, transferiu-se para França, para tentar ao serviço do Mónaco o seu regresso à selecção. Foi, no entanto, no Mónaco que se lesionou gravemente no joelho, não se livrando da cirurgia. Desde este momento, Vieri nunca mais conseguiu sucesso. Em Julho de 2006 assinou um contrato com a Sampdoria. Um mês depois, saiu. E foi oferecer os seus préstimos à despromovida Juventus, que pouco simpaticamente declinou. Regressou, então, ao Atalanta, onde assinou certamente o contrato mais estranho da sua carreira, com validade de uma época: ganharia o ordenado mínimo, 1500 euros por mês. E 100 mil euros por cada golo que fizesse. Também não resultou. Vieri não estava com vontade de jogar. Porque estava "deprimido" ou porque não o permitia a sua "lesão" no joelho esquerdo. No mês passado a Atalanta fez anunciar que Vieri já não era jogador do clube.
Dia 19 deste mês, a Fiorentina, que vai disputar a Taça UEFA, deu-lhe talvez a última oportunidade de recuperar a veia goleadora, assinando com Vieri um contrato por um ano. Resta saber qual chegará primeiro ao fim: o contrato ou a carreira? |