Vida na mina faz Aljustrel renascer

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Não há mesas por ocupar no velho Café Aliança. Um homem engraxa sapatos e no balcão enfileiram-se copos e chávenas que sobraram dos últimos pequenos-almoços. A rua frontal está cheia de gente num movimento como há muito não se via. É indesmentível que Aljustrel está a renascer depois de uma "travessia do deserto" que durou cerca de 15 anos.

"Há mais pessoas, há mais dinheiro, há mais gastos". Sem delongas, Carlos Cabeça, proprietário do restaurante Cabecinha, define assim a nova realidade da vila mineira depois da Pirites Alentejanas ter retomado a exploração.

Para trás ficou uma longa crise que começou em 1991 e se agudizou em 1993 quando a empresa entrou em lay-off durante seis meses. Nessa altura, trabalhavam 400 pessoas na mina e a fraca cotação dos metais não ajudou nada. Sucederam- -se cursos de formação profissional para os trabalhadores e foi assegurada a manutenção do complexo mineiro. Mas gradualmente a empresa ficou com menos de meia centena de trabalhadores.

A economia local de Aljustrel ressentiu-se muito. Os negócios começaram a fraquejar, o movimento nas lojas baixou significativamente e o horizonte tornou-se sombrio. Contudo, no início do Verão de 2006, a empresa Pirites Alentejanas anunciou que iria retomar a exploração. Daí para cá, todas as datas anunciadas têm vindo a ser cumpridas e Aljustrel vive "uma vida nova".

Neste momento já trabalham na mina cerca de 700 pessoas e os efeitos da retoma fazem-se sentir. No Café Aliança, Clotilde Raposo confirma que "a casa está mais cheia depois de anos muito complicados". Ao seu lado, impaciente para dar a sua opinião, Manuela Ramos garante que "as pessoas dos hotéis dizem que têm tudo cheio" e que "há muita procura de casas para alugar". Não é preciso andar muito para o confirmarmos. Inácio Brito, gerente da pensão "Meia Encosta", revela que os 37 quartos estão "100% lotados" e até graceja com o novo fôlego que o negócio ganhou: "Saiu-me a sorte grande sem jogar!"

Os mesmos sintomas estão também reflectidos na restauração e nas lojas de roupa. Na marisqueira Cabecinha, Carlos Cabeças admite que o volume de negócios está "um bocadinho acima do ano passado". Mas nas Modas Maryzé, apesar deste acréscimo de pessoas que circulam na vila, as roupas das melhores marcas "estão a vender-se como nos últimos anos". "Não sentimos grande mudança mas isso não quer dizer que não tenhamos esperança", acentua Francisco Chaves, o gerente da casa.

Apesar deste clima de optimismo, a verdade é que muitos aljustrelenses ainda estão de pé atrás e não concordam com os termos como está a decorrer o processo. "Deus queira que Aljustrel renasça, mas estão a fazer as coisas muito mal porque estão a contratar trabalhadores de fora. Deviam-se lembrar dos filhos da terra", enfatiza Manuela Ramos com tom grave.

A chamada de atenção é partilhada pelo sindicalista Luís Sequeira, um dos 40 trabalhadores da empresa que fez a "travessia do deserto" e, neste momento, apenas nota "efeitos moderados" em Aljustrel. "Existe até uma certa desilusão porque a actividade da empresa não se fez sentir na vida económica da vila", considera.

80 mil toneladas de zinco

A mina de Aljustrel retomou a laboração há cerca de cinco meses no jazigo do Moinho e, no passado dia 12 de Abril, avançou com a produção comercial das primeiras 6680 toneladas de concentrado de zinco que foram extraídas em apenas um mês. Uma pequena cifra se tivermos em conta que, no próximo ano, a histórica mina alentejana deverá produzir 80 mil toneladas de concentrado de zinco e 17 mil toneladas de concentrado de chumbo. Para conseguir alcançar estes valores, a Pirites Alentejanas realizou, só até ao fim do ano passado, um investimento de 114 milhões de euros neste projecto. Refira-se que, actualmente, laboram na mina 200 pessoas directamente ligadas à em- presa mas, segundo números do Sindicato da Indústria Mineira, haverá mais 500 trabalhadores com vínculo a empresas prestadoras de serviços (outsourcing).|

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