Vida de peixe. Efeito "A Mulher de Vermelho" enfeitiça machos grávidos
Parentes muito chegados dos cavalos-marinhos, as marinhas (Sygnathus abaster) são uns peixinhos surpreendentes, e com muito para contar. Nesta espécie, são os machos que engravidam, uma forma de reprodução única no mundo. Mas as surpresas não ficam por aqui.
Como descobriu agora um grupo internacional de investigadores liderado por dois biólogos portugueses, Nuno Monteiro e Mário Cunha, do CIBIO-InBio, da Universidade do Porto, mesmo quando grávidos, se passar por perto destes machos uma fêmea mais atraente, eles sofrem o efeito "A mulher de Vermelho". E as coisas não correm bem para a descendência.
No ciclo reprodutor destes peixes, depois de as fêmeas transferirem os ovos para a bolsa incubadora do macho, é ali que os embriões se desenvolvem, protegidos e alimentados pelo pai. Mas se uma outra fêmea o atrair, ele acaba por descurá-los. Resultado: alguns embriões não se desenvolvem sequer e aumenta o número de abortos, e as crias também são depois mais pequenas
O estudo, cujos resultados são publicados hoje na revista científica Proceedings of the Royal Society B, fez a observação de mais de 400 peixes desta espécie, tanto na natureza como em laboratório, para chegar a estas conclusões.
"Embora não tenhamos observado um bloqueio completo da gravidez, os resultados indicam que os machos são capazes de reduzir o investimento na gestação atual quando confrontados com a perspetiva de uma melhor reprodução futura", explica Nuno Monteiro. Nessas circunstância, sublinha o biólogo, "o gestante reduz ou cessa a transferência de recursos para os embriões, capta e reserva nutrientes dos embriões abortados e, assim, economiza reservas de energia para a gravidez que acredita ser possível com "A Mulher de Vermelho".