Victor Palla despede-se da cidade que fotografou
Paula Lobo
Dizia que gostava de ligar todas as formas de expressão. Por isso se dedicou à arquitectura, à fotografia, à pintura, ao design gráfico, à edição de livros e revistas, à organização de exposições. Victor Palla foi, em muitos campos, um pioneiro. Morreu sexta-feira à noite, em Lisboa, vítima de pneumonia, aos 84 anos.
Como arquitecto, formado pela ESBAL em 1946 e parceiro de Bento de Almeida durante 25 anos, projectou fábricas e apartamentos, escolas como a do Vale Escuro e a nº.175 dos Olivais, ou os snack-bars Galeto (em Lisboa, classificado pelo Ippar) e Cunha (Porto). Assinando, individualmente e já nos anos 60, a Aldeia das Açoteias, em Albufeira.
Mas seria com a fotografia que o nome deste lisboeta - filho de fotógrafo amador e iniciado na arte ainda criança - correu mundo, quando em 2001 um júri internacional elegeu Lisboa,Cidade Triste e Alegre um dos cem melhores livros do século XX.
Começado em 1956 com o também arquitecto e fotógrafo Manuel Costa Martins e exibido em 1958 nas galerias do Diário de Notícias e Divulgação (Porto), esse projecto experimental seria publicado em fascículos, em 1959. Não só rompia com o academismo vigente (pela edição fragmentada das imagens e inspiração no cinema italiano) como incluía poemas de Pessoa, Almada, Eugénio de Andrade, Mourão-Ferreira ou O'Neill.
Um retrato humanizado e nada turístico, redescoberto em 1982 na exposição Lisboa e Tejo e Tudo, organizada pela Galeria Ether. E que Martin Parr, fotógrafo da Magnum, incluiu em The Photobook: A History (2004).
"O livro vai ser publicado brevemente, em Portugal ou no estrangeiro", revelou ontem ao DN a fotógrafa Maria José Palla, a propósito desta importantíssima obra que o seu pai gostaria de ver reeditada - algumas das imagens que a integram, recorde-se, estão na exposição Em Foco: Fotógrafos Portugueses do Pós-Guerra, patente até 28 de Maio, no Museu da Cidade, em Lisboa.
Homenageado numa retrospectiva da Gulbenkian (1992) e galardoado com o Prémio Nacional de Fotografia pela sua carreira (1999), Victor Palla foi também escritor e autor de inúmeras capas de livros, tradutor, co--fundador de revistas e galerias, pintor e organizador das Exposições Gerais de Artes Plásticas (1946 a 1956). O seu corpo é cremado amanhã, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa.