Vício dos jogos online e a dinheiro aumenta entre os jovens

Instituto de Apoio ao Jogador recebe pedidos de ajuda todas as semanas. 20% dos menores até aos 16 anos joga regularmente
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Em média, 23% dos jovens europeus até aos 16 anos jogam na internet numa base regular (quatro ou mais dias em sete dias), sendo que em Portugal são já 20% os que admitem o vício do jogo online, segundo o "European School Survey Project on Alcohol and other Drugs (ESPAD)".

A realidade portuguesa de um estudo conduzido em 25 países foi apresentada ontem pela técnica Fernanda Feijão, do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).

O inquérito, que apresenta as grandes tendências de consumo de álcool e drogas por alunos com idades até aos 16 anos, entre 2011 e 2015 na Europa, incluiu pela primeira vez comportamentos aditivos não relacionados com a toma de substâncias. É o caso do uso da internet ao nível das redes sociais, do jogo online mas também das apostas a dinheiro mais convencionais (totoloto, euromilhões e outros).

Apesar de os jovens portugueses estarem abaixo da média europeia nos vídeojogos, quem trabalha no terreno em Portugal já sente esta nova dependência dos menores como muito preocupante. "No Instituto de Apoio ao Jogador todas as semanas recebemos um pedido de ajuda de um menor ou de marcação de consulta por dependência do "gaming" ou jogo online", afirmou ao DN o psicólogo Pedro Hubert, especialista em adições.

Os países com percentagens mais elevadas de jovens a jogarem regularmente online durante a semana são os do Norte europeu, nomeadamente a Dinamarca (45%), a Noruega e a Lituânia (ambas com 30%) bem como a Finlândia e a Holanda (ambas com 27%).

20% de jovens em tratamento

No Instituto de Apoio ao Jogador, em Portugal, a realidadeé esta: "20% dos pacientes são alunos do secundário e universitário viciados em vídeojogos e com problemas sérios de abandono escolar, conflitos familiares e depressões", refere o psicólogo Pedro Hubert. Outro aspecto alarmante é que "começa a haver apostas a dinheiro nos vídeojogos, nomeadamente nas equipas do League of Legions".

O psicólogo concretiza que as roupas e armas que os jogadores vão adquirindo neste jogo específico são depois transformadas em dinheiro. "Ainda nem há legislação específica sobre isto mas está a acontecer. Estive numa conferência internacional onde se explicou que os vídeojogos estão a criar plataformas onde se pode jogar a dinheiro", adiantou. Nos Estados Unidos, diz, esta realidade já se traduz em receitas de centenas de milhões de dólares.

"O jogo online ou gaming será mais aditivo do que o gambling, que envolve o totoloto, raspadinhas e outros do género. Há ali um reforço muito positivo na internet e eles ficam agarrados. O jogo de base territorial dá mais trabalho. São fundamentalmente atividades de rapazes", comentou Fernanda Feijão, do SICAD. "Mas é uma tendência nova, estou convencida de que ainda não há grandes dependências".

Nas apostas a dinheiro na internet Portugal está perto da média europeia com 2% dos estudantes até aos 16 anos a admitirem ter este hábito quatro ou mais dias numa semana. A média europeia é de 3% e os recordistas são estudantes de países do Leste e dos Balcãs como a Albânia e Macedónia (7%) e a Lituânia e o Montenegro (5%). Já no gambling fora da internet temos 8% de estudantes a admitirem jogar pelo menos uma vez no ano e 4% a assumirem que jogam frequentemente. Muito atrás de países como a Grécia e a Macedónia onde há 16% e 13% de estudantes até aos 16 anos, respetivamente, a admitirem jogar regularmente.

À frente no uso de sedativos

Enquanto o consumo de tabaco, álcool e drogas pelos jovens portugueses ouvidos no inquérito está estabilizado e em alguns casos é até abaixo da média europeia, o mesmo não acontece com outro indicador. Portugal é um dos países da Europa onde os jovens com idades até aos 16 anos mais consomem medicamentos sedativos ou tranquilizantes com receita médica.

Deacordo com o estudo, em 2015, os países com maiores percentagens de consumos de medicamentos com receita médica foram a Letónia (16%) e Portugal (13%).

"Este é um resultado que para nós acaba por ser algo que nos motiva preocupação. Temos a noção clara de que é uma área em que temos que melhorar", disse o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, aos jornalistas, à margem da apresentação do relatório. O governante adiantou que a está já a ser estudado, em conjugação com os médicos de família e todos os profissionais dos cuidados de saúde primários, este novo fenómeno e soluções possíveis para o problema.

"Temos que perceber que tipo de jovens são estes que estão a obter estes sedativos através de receitas medicas, para que patologias, e encontrar mecanismos diferentes para responder às suas necessidades", concluiu Fernando Araújo.

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