Vice-campeão da Volta à Itália suspeito por doping
“A decisão de suspender provisoriamente o senhor Di Luca foi tomada como resposta a um relatório do laboratório de Paris, acreditado pela Agência Mundial Antidopagem, indicando um resultado analítico adverso, por EPO recombinante (EPO), em amostras de urina colhidas a ele durante a Volta à Itália”, explicou a União Ciclista Internacional (UCI).
De acordo com este organismo, os testes foram o resultado de um programa individualizado de testes antidoping, “conduzido com base em informação do perfil sanguíneo do passaporte biológico, resultados de testes anteriores e o plano de corridas” de Di Luca, que poderá nomear um perito para estar presente durante as contra-análises.
Os controlos foram realizados a 20 e 28 de Maio, numa altura em que o italiano lutava pela liderança da Volta à Itália: ganhou duas etapas, envergou a camisola rosa de líder durante oito dias e ‘ameaçou’ o vencedor da prova, o russo Denis Menchov, até à derradeira tirada, terminando a 41s do campeão.
Di Luca tem um passado atribulado relativamente ao doping. Já cumpriu três meses de suspensão por ter sido cliente de Carlo Santuccione, um médico que liderou um esquema de doping no desporto profissional italiano (caso conhecido por ‘Oil for Drugs’). Em 2008, Di Luca foi acusado novamente de dopagem, devido aos valores anormais de um controlo registado no Giro 2007, que o ciclista ganhou, mas o tribunal de última instância do Comité Olímpico Italiano (CONI) ilibou-o por insuficiência de provas.
Vários casos de CERA
Di Luca é apenas mais um ciclista italiano a ser apanhado por dopagem com CERA. O primeiro caso foi protagonizado por Riccardo Riccò, segundo classificado do Giro 2008, mas relativamente a um controlo efectuado na Volta à França do mesmo ano, que mandou reanalisar amostras suspeitas (apesar deste caso, a organização do Giro não quis mandar reanalisar amostras de sangue). Também no Tour foram registados testes positivos do alemão Stefan Schumacher e do austríaco Bernhard Kohl (terceiro classificado e líder da montanha).
Também nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 foi confirmada a detecção desta EPO de acção prolongada em cinco atletas: Stefan Schumacher, o italiano Davide Rebellin, medalha de prata na prova de estrada, Rashid Ramzi, campeão dos 1500 metros, e as atletas Athanasia Tsoumeleka (Grécia), campeã dos 20km em Atenas 2004, e Vanja Perisic (Croácia), especialista dos 800m.
Di Luca, da equipa LPR, também não é o primeiro ciclista a ser visado pelas autoridades com base no passaporte biológico. Além dos procedimentos disciplinares iniciados apenas com base nos dados dos perfis sanguíneos, os oficiais antidoping usaram esta informação para visarem em especial alguns ciclistas com indícios suspeitos e ‘apanharam’ o holandês Thomas Dekker (Silence), que acabou sendo afastado do Tour 2009, e o espanhol Iñigo Landaluze (Euskaltel).
O QUE É A CERA?
A EPO sintética imita a eritropoietina natural, que é produzida pelo rim humano e estimula a medula óssea a produzir glóbulos vermelhos, que transportam oxigénio para as células e por isso esta substância tornou-se num dopante muito usado no desporto. A indústria farmacêutica desenvolveu várias versões sintetizadas, para ajudar a reduzir a necessidade de transfusões sanguíneas de pacientes com insuficiência renal crónica ou anemia e para doentes no pré-operatório.
A CERA foi uma das últimas EPO sintéticas a serem desenvolvidas. Mas a colaboração entre a farmacêutica, a Roche, e a Agência Mundial Antidopagem (AMA) atingiu níveis inéditos: logo a partir de 2004 a Roche começou a ceder à AMA amostras e documentação sobre o medicamento, com marca comercial Mircera, que só recebeu autorização para entrar no mercado europeu em Julho de 2007. E um ano depois os laboratórios antidoping já tinham total capacidade científica e legal para declararem positivos por CERA.
"A CERA possui a mesma estrutura que a EPO clássica, de primeira geração. O seu efeito dura mais tempo e exige apenas uma injecção por mês”, afirmou recentemente Neil Robinson, responsável pelo despiste de EPO no laboratório de Lausana, explicando que este medicamento “representa um conforto para os hospitais, mas não para quem se dopa, pois o seu período de detecção no organismo é mais longo". Para Robinson, as EPO continuarão a ser uma grande ameaça ao desporto.