Viagem à volta de Chopin pelas mãos de Barenboim
Um recital-Chopin "à moda de" Rubinstein - pianista que muito admira e que relembrara na véspera, na apresentação do seu livro - foi a forma como Barenboim se despediu de Lisboa. À sua volta (havia uns 200 lugares de palco), 1500 pessoas ouviram-no numa série de pérolas do catálogo chopiniano, tais a Fantasia, op. 49, a Berceuse, op. 57, a Barcarola, op. 60, o Nocturno, op. 27 n.º 2 e a Polaca em lá bM. "Pièce de résistance" era a Sonata 'da Marcha Fúnebre' e completavam o ramalhete três valsas, ouvindo-se, por esta ordem, a n.º 4, em fá M; a n.º 3, em lá m e a n.º 14, em mi m. Tecnicamente, Baren- boim voltou, como no Coliseu dois dias antes, a revelar falhas nas passagens mais arrevesadas, aqui mais com a tendência para "borrar" as harmonias por uso excessivo de pedal. Face a isto, beneficiaram obras como o Nocturno ou a Berceuse ou a Valsa n.º 3. Mas a coerência da concepção, a poética do pianismo nunca desapareceram, mesmo quando franzíamos o sobrolho às tais falhas. Houve, também aí, detalhes discutíveis da sua parte nas opções agógicas, nos ritenuti subiti, no uso por vezes excessivo do tempo rubato (vide Sonata) mas a verdade é que ele nunca deixou de "agarrar" as obras, ou, digamos, de as mostrar de todos os ângulos. Lembrámo-nos do que ele diz de Furtwängler sobre a obra "tornar-se" no decurso da interpretação... É isso! Em extra, o Nocturno n.º 5 e uma Mazurca.