"Via Verde investe 3 milhões por ano para continuar a inovar"

CEO da empresa de soluções de mobilidade surpreendido com ação do ACP, com quem estava até a desenhar "uma oferta comercial baseada nas novas condições" de serviço.
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Quando há 30 anos apresentou a pequena caixa branca que permitia pagar portagens sem parar nem ter dinheiro no bolso, a Via Verde deu a Portugal o título de primeiro país do mundo com uma rede integrada de portagem eletrónica non stop. E se desde então a inovação tecnológica tem marcado a atuação da empresa, os últimos anos, com a aceleração brutal da digitalização em curso e as exigências da transformação energética, trouxeram um leque de soluções que puseram a empresa na liderança da oferta digital em mobilidade. Um caminho que obriga a investimento robusto.

"Temos investido em média 3 milhões de euros por ano em inovação, tecnologia, cibersegurança, plataformas, tudo quanto é necessário para termos uma oferta de serviços cada vez mais ampla, verdadeiramente digital e integrada", explica ao DN/Dinheiro Vivo Eduardo Ramos, CEO da Via Verde, que tem sido atacada pela decisão de reconfigurar os serviços que oferece - separando os clientes nas portagens dos que usam todo o leque de soluções Via Verde, passando estes a pagar mais 50 cêntimos por mês. Uma decisão que o CEO justifica com "os custos desta transformação digital, que vão muito além dos que trazia o que se fazia com um simples identificador", frisa, ao DN/Dinheiro Vivo.

Nestas contas, pesa ainda a aposta reforçada na eletrificação, cumprindo os compromissos ESG (environmental, social and governance, na formulação original) assumidos pela empresa, no âmbito da estratégia do grupo Brisa, de que faz parte. Tornar-se numa referência internacional na gestão de autoestradas e infraestruturas associadas, em soluções de mobilidade e práticas de sustentabilidade são objetivos estabelecidos no plano estratégico Vision 2025, com o grupo a prever investir 14 milhões nos próximos três anos em medidas para a sustentabilidade.

Chegada a um momento em que a inovação em produtos e serviços já era cash negative, era preciso fazer uma opção para manter a oferta sustentável. "Isso significa garantir incentivo económico à continuidade da inovação no quadro da transformação digital" - imputando parte do custo a quem usufrui dos serviços - "ou parar de evoluir e desenvolver novas soluções que obrigam a um investimento muito relevante".

Desde quarta-feira, os clientes da Via Verde que queiram continuar a usufruir de um leque alargado de serviços de mobilidade garantidos através da app - abastecimento e carregamento de carros, estacionamento, pagamento no McDrive, do ferry, etc. - passam a pagar 99 cêntimos por mês (11,50/ano). Quem escolha personalizar o serviço com a Mobilidade Leve pode pagar só a mensalidade (1,25 euros) nos meses em que usa os serviços. E os que optem por manter apenas a possibilidade de pagar portagens com o identificador (opção Autoestrada) mantêm a mensalidade de 49 cêntimos - "não há sequer atualização à taxa de inflação" -, mas têm de comunicar a mudança à Via Verde.

A decisão de se assumir a passagem direta para o VV Mobilidade de todos os clientes que não sinalizem outra vontade foi tomada por uma questão de "simplificar-lhes a vida". "Para que, por exemplo, não chegassem a um parque e não pudessem usar o serviço porque não estava ativo. E não o decidimos sem antes estudar bem o tema, analisar práticas internacionais, fazer estudos de mercado, ver que valor seria adequado para responder às necessidades levantadas pelo investimento (sem pesar no bolso dos clientes) e perceber que, nestas condições, muitos queriam manter os serviços alargados."

Dos 3 milhões de clientes, cerca de metade utiliza a oferta mais ampla da Via Verde, tendo menos de 200 pessoas sinalizado vontade de ficar apenas com o identificador para pagar portagens, desde dezembro.

Mas esta reconfiguração não passou sem contestação - primeiro da Deco, que acusou a empresa de subir preços em 50% por não ter concorrência; depois do ACP, que comunicou nesta semana ter acionado os meios legais para impedir o que considera ser "um novo tarifário", decidido por quem diz praticar "abuso de posição de quase monopólio do mercado". A Via Verde ainda não foi notificada da ação judicial, que assume ter sido recebida com surpresa dada a "relação de longa data" entre a empresa e a associação.

"Fomos totalmente surpreendidos com isto e as equipas do Automóvel Clube - com quem estamos há meses a trabalhar uma nova oferta comercial direcionada aos clientes ACP, precisamente com base nas novas condições da Via Verde - também", garante Eduardo Ramos. O CEO espera que o período experimental estabelecido pela empresa de soluções de mobilidade, até 31 de março, para explicar e tornar amplamente conhecidos os termos da nova oferta entre os clientes possa ajudar a esclarecer todas as questões.

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