Vestir a camisola
Nunca fui clubística nem tão-pouco partidária, fico antes naquela linha ténue que separa a ética da estética. Inclino-me para a ética mais por defeito do que por feitio.
Quis a bendita que me iniciasse na dança antes sequer de aprender a dançar. Contra conversas de cha-cha-cha de um demagogo enfermo qualquer, vale a inconsciência dos heróis e a vontade das crianças.
Há que aceitar o convite para dançar, ainda que o bolero não seja o nosso forte.
Acabei de rever Cat on a Hot Tin Roof , nervos fora, não sobra nada. Visto a camisola e aceito dançar em pontas num telhado de vidro, qual Cinderela com sapatinhos de cristal. O risco, feito ruga por via do amadurecimento, tece os contornos do dever . "A sina tem que cumprir-se?", ecoa Florbela, que desta me Espanca.
Dizem que a idade conquista ponderação, sensatez e sapiência? só ainda não cheguei lá. Percebi que, afinal, a televisão não é assim tão distinta do futebol. Os adeptos são aos milhares. Sempre se segue atentamente a estratégia do adversário e depois há os defesas, os avançados, os pontas-de-lança. Não faltam os que ficam fora de jogo e os goleadores natos. Há ainda os que, vaiados ou não, mudam de clube.
O objectivo é o de sempre: proporcionar o maior espectáculo do mundo. Mudam-se as camisolas, mas os adeptos são os mesmos. O importante é não defraudar o público e, com verdade e clareza, continuar a crescer e a evoluir. Claro que é sempre difícil mudar de casa, mas também é bom reencontrar velhos amigos. Afinal, somos todos uma grande "família", a trabalhar para o mesmo objectivo.
Eu, que nunca fui muito entendida no assunto, vesti a camisola de Dança Comigo para marcar golo, porque nisto do futebol ninguém joga para o empate. E num ápice, o vaivém desenfreado, o ímpeto voraz que tudo arrasta, como diria Honoré de Balzac. "?As luzes, o entusiasmo geral, a ilusão do palco." Cresce a adrenalina, como subiria o pano em noite de estreia. Acção!