Vespa asiática. A ameaça que vem do Oriente

Entraram pelo Minho mas já se espalharam por quase todo o território nacional, atacando abelhas e colmeias - e colocando assim em perigo a polinização, a produção de mel, a biodiversidade e até a segurança das pessoas. Há um plano de ação para combater a praga, mas, para já, a vespa asiática está a vencer a guerra.
Publicado a
Atualizado a

Chegaram à Europa em 2004 pelo porto de Bordéus. As autoridades francesas desconfiam que através de um carregamento de bonsai proveniente da China. Verdade ou não, o facto é que dois anos depois foram detetados 223 ninhos de vespa asiática em França e rapidamente se tornou uma praga.


O primeiro caso detetado em Portugal ocorreu em 2011 perto de Viana do Castelo e tudo indica que chegou por via terrestre num carregamento de madeira. Mas porque é que estas vespas - originárias das regiões tropicais e subtropicais do norte da Índia ao leste da China, da Indochina e da Indonésia - são um problema? Simples: é predadora da abelha europeia e de outros insetos polinizadores.

Assim, é na apicultura que a vespa asiática causa maiores estragos, pelo ataque às abelhas autóctones e pela diminuição da produção de mel e da polinização vegetal. Além disso, pode afetar a produção de frutos - que fazem parte da sua dieta em determinados ciclos biológicos. Existem relatos de estragos quer em pomares quer em vinhas.

As vespas velutinas, como são também chamadas, não são mais agressivas do que as suas congéneres locais, mas tornam-se especialmente perigosas quando sentem o seu ninho ameaçado, atacando em grupo com perseguições por várias centenas de metros. Por outro lado, sendo uma espécie invasora, pode provocar desequilíbrios sérios na biodiversidade.

"A quantidade de locais onde a vespa asiática já existe é muito preocupante", começa por dizer ao DN Nuno Forner, da Zero, Associação Sistema Terrestre Sustentável. E explica: "Estão a expandir-se para sul, mais junto ao litoral, provavelmente porque têm condições atmosféricas mais favoráveis do que no interior, que tem invernos com temperaturas mais baixas." Ainda assim, o mais provável é que a vespa asiática ocupe todos os distritos do território nacional continental mais cedo ou mais tarde.

"Estas vespas atacam as colmeias e têm um forte impacto negativo na apicultura porque as abelhas não têm como defender-se. Ainda não constituíram capacidades de defesa naturais e isso poderá levar várias gerações até que o consigam fazer. Entretanto, as vespas asiáticas vão criando estragos sérios", esclarece Forner.

Então, como combater esta praga? Informando as autoridades de acordo com o estabelecido no chamado Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa Velutina em Portugal, criado pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária e pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.


A deteção precoce das vespas permite, claro, um mais eficaz ataque ao problema. De acordo com o plano, é "estabelecida uma rede de vigilância ativa com armadilhas entomológicas instaladas em locais de introdução de produtos e materiais identificados na avaliação de risco, tais como portos, aeroportos e terminais rodoviários, bem como serrações e pontos de armazenamento de plantas e substratos de origem vegetal, sobretudo com origem em locais já invadidos".

Quando as vespas asiáticas são encontradas, ou os seus ninhos, essa informação deve ser comunicada às autoridades. A destruição dos ninhos deve ser feita com equipamento de proteção e seguindo as orientações do plano de ação. Uma das recomendações é nunca usar armas de fogo, dado que assim só se destrói parcialmente os ninhos e contribui-se para a dispersão e disseminação das vespas asiáticas.

Em alguns pontos do país já houve ataques desta espécie a animais, levando à morte de cavalos na zona da Golegã, e humanos. Recomenda-se que, no caso de perseguição, o melhor mesmo é a imobilização, uma vez que as vespas desistem quando não sentem movimento.

Os municípios têm atacado o problema, mas há queixas de falta de coordenação nacional, com vários autarcas a pedirem medidas mais concretas por parte do Ministério da Agricultura. Entretanto, os ninhos das vespas asiáticas continuam expandir-se pelo território, na sua maioria em árvores das zonas rurais, mas também com alguma frequência em telhados e em interiores de algumas habitações e anexos. Quando há perda da rainha, esta espécie tem a capacidade de transformar as obreiras em fêmeas fundadoras e de construir novos ninhos, daí também a rapidez com que se têm espalhado.

Um dos receios maiores é a rapidez de adaptação da espécie. "Está a instalar-se em zonas onde nós pensávamos que só iria aparecer daqui a quatro ou cinco anos. Nunca pensámos que iriam aparecer vespas isoladas a mil metros de altitude", referiu Manuel Gonçalves, presidente da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal. Segundo um estudo realizado por esta federação, no ano passado, esta praga está a causar prejuízos de cinco euros por colmeia - sobretudo devido à diminuição do número de abelhas, ao reforço do suplemento alimentar e à baixa na produção de mel.

"Os apicultores vão ter de conviver com a vespa asiática por muito tempo. E já estão a reagir com trabalho significativo, que tem resultado na diminuição de perdas", explicou agora ao DN Manuel Gonçalves, que continua: "Este é um problema de saúde pública, que está a ser atacado. O plano de ação criado envolve toda a gente e existe também um manual de boas práticas que explica como se devem destruir os ninhos. Por outro lado, foi disponibilizado um milhão de euros pelo governo para que, precisamente, os ninhos sejam destruídos. Estamos a aprender como a vespa asiática se desloca e se propaga, sendo cada vez mais fácil atuar de forma eficaz."

A vespa asiática ainda não foi detetada em Lisboa, mas como é provável a sua entrada, o município criou já um programa de prevenção, que envolve a participação dos serviços de proteção civil, veterinários e de controlo de pragas. Já no Porto, foram eliminados no ano passado 136 ninhos da vespa asiática, mais 30 do que em 2017. Em todo o território, em 2018, foram detetados mais de 3500 ninhos, mas o número deverá estar muito abaixo do valor real.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt