Ver a história da PJ no Porto através das peças de museu
O ponto de partida é 1947, data em que a Polícia Judiciária (PJ), oficialmente assim denominada dois anos antes, passou a ter uma diretoria no Porto. Hoje, graças ao empenho de funcionários e investigadores ao longo dos anos, está reunido no núcleo museológico um grande espólio de objetos apreendidos, desde armas a arte falsificada, e de equipamentos utilizados que ao longo das seis décadas contam a evolução desta força de investigação criminal no Norte.
O espaço fica no interior do edifício da diretoria no Porto, entre a antiga sede numa moradia com frente na Rua Pereira Reis e nas novas instalações anexas na Rua Assis Vaz. Aqui situa-se o núcleo museológico por excelência, com a casa a acolher as obras de arte, por uma necessidade de espaço.
No núcleo museológico, encontramos tudo ordenado de forma a contar a história da PJ no Porto. Passando a porta, o visitante fica a saber que a PJ começou no Aljube, passou depois para São Bento da Vitória, até chegar ao atual edifício. Uma fotografia evidencia bem as diferenças do arranque para a atualidade: exibe o primeiro carro e o primeiro motorista.
Os crachás ao longo dos tempos ou os cartões de transporte para circular nos autocarros e elétricos estão patentes. Depois chegam muitos dos primeiros equipamentos, com a fotografia em destaque. As Nikkonmet e as Pentax foram investimentos preciosos na época.
Ali se veem também as cabeleiras e os bigodes postiços usados pelos investigadores, tal como janelas de vigia que se adaptavam a casas ou veículos. "Tudo isto era muito usado", comenta Arnaldo Silva, atual coordenador na PJ e um elemento com décadas ao serviço da diretoria do Norte.
Hoje estes instrumentos estão quase obsoletos, como muitas lupas estereoscópicas, balanças de precisão ou o primeiro microscópio para análise de documentos. Mas foram muitos úteis e foram substituídos por outros mais eficientes. "As impressões digitais ainda hoje têm um grande investimento", garante Arnaldo Silva.
Mais uma vitrina e aparecem as malas com reagentes para levar para os locais do crime. Hoje o cenário é mais CSI com os fatos brancos dos técnicos especializados. "A partir do final da década de 1980 assiste-se a uma mudança radical", conta o coordenador de investigação criminal. "É aí que surgem os primeiros técnicos especialistas."
O mundo de objetos usados para descobrir os autores de crimes ou para os deter é vasto. Há os megafones das rusgas, os primeiros equipamentos de escutas que funcionavam em direto, até ao arquivo de queixas e ao livro de registo de apreensões. "Apreendia-se tudo, desde bicicletas a animais", recorda Arnaldo Silva. Num registo de 1967, um caso teve a apreensão de uma galinha, dois coelhos, um martelo e duas panelas.
Mas nos anos 1980 a PJ começou a mudar porque o mundo também mudava. Compraram os primeiros computadores Olivetti e o tráfico de droga passou a ser um espaço especial de combate ao crime. Neste núcleo podemos ver os primeiros objetos a ser apreendidos por serem usados para esconder estupefacientes, como livros, um jogo de xadrez ou mesmo um pião de brincar. "Hoje conservamos apenas os que são novos, que revelam novos modus operandi."
Como as armas são uma componente do crime, a secção de armamento tem forte representação. Das armas usadas pelos inspetores (está exposta a arma automática usada pelo inspetor João Melo, morto a tiro em 2001 durante a detenção de um gangue), às apreendidas a criminosos, com destaque para um caso de 2009 em que foi detido um comerciante com um enorme arsenal de guerra. "Foi o maior número de armas proibidas apreendidas de uma só vez", realça Vítor Teixeira, da secção de Armamento e Tiro. "Temos aqui armas muito antigas e algumas bastante raras", esclarece o especialista que já colaborou numa tese de mestrado na Faculdade de Engenharia, com a respetiva arma usada para o trabalho académico a estar exposta no núcleo da PJ. Ao lado estão vários tipos de armas dissimuladas em canetas ou isqueiros. E armas apreendidas a elementos das FP-25 que se dedicaram a cometer assaltos a bancos.
Saltando deste espaço museológico no novo edifício para a contígua antiga sede, o visitante depara-se com dezenas de obras de arte, sobretudo pintura. Na divisão moderna estão exemplos de arte sacra apreendida e nunca reclamada. Aqui o cenário é mais a falsificação, com supostos quadros de Picasso, Cargaleiro, José Malhoa ou Vieira da Silva. "Muitos são cópias, outros são apenas pinturas ou desenhos que são atribuídos a pintores", explica Arnaldo Silva.
Para o diretor da PJ do Norte, é um orgulho este núcleo. "Havia uma sala onde se concentraram os objetos e havia que expô-los, fazer um núcleo museológico. Mas não era prioritário e não havia dinheiro", disse ao DN Batista Romão. "Foi um trabalho com a prata da casa." O objetivo é, em 2017, "abrir a estudantes da área da Criminologia e de Direito". Por razões de segurança, o edifício da PJ não pode ser aberto ao público em geral. Batista Romão, o mais recente de 23 diretores da PJ do Porto, diz que este núcleo é também uma forma de "mostrar aos funcionários mais novos como foi a história da PJ e como ela evoluiu."