Vender ou beber? O investimento em que ganha sempre

Política internacional, um tweet de Elon Musk, ou a aprovação de novas vacinas são temas que não afetam o valor dos vinhos. Investir no néctar dos deuses é tão simples como seguir a lei da oferta e da procura
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Quanto mais escasso, mais raro. E quanto mais raro, mais caro. Esta é a explicação, tão clara como simples, que Tiago Stattmiller usa para demonstrar que no mundo dos vinhos não há segredos de Estado, reação a temas políticos, ou polémicas empresariais que atirem os preços para cima, ou para baixo, como acontece noutras áreas de investimento. "Apenas a escassez valoriza o vinho", explica o senior account manager da OENO, empresa especializada no investimento em vinhos de luxo, em entrevista ao DN, à margem da primeira edição do Seminário de Investimento em Vinhos, que aconteceu recentemente em Lisboa.

Ou seja, não há como enganar. Quanto menos garrafas houver no mercado, maior o valor do vinho. "O caso do champanhe é um excelente exemplo", reforça o gestor. O seu valor continua a crescer porque não existe produção que satisfaça o consumo global, também crescente. O que significa, explica Tiago Stattmiller, que quem tem garrafas de champanhe, especialmente nesta altura do ano, antes do Natal e do Ano Novo, e as mantém até depois do Dia dos Namorados ou da Páscoa, conseguirá valorizar o produto e ganhar dinheiro em poucos meses. "Hoje, se comprar a mil euros, depois destas épocas festivas, cada garrafa poderá valer 1100 ou 1200. Já se esperar dois ou três anos, estaremos a falar de um crescimento muito significativo".

Faça-se as contas. Pode parecer pouco ganhar 100 ou 200 euros em três ou quatro meses. Contudo, se olharmos para as taxas de rentabilidade de outros produtos de investimento, facilmente verificamos que esta valorização é superior, e com um nível de risco moderado. Ao longo dos últimos sete anos, os investidores que aceitaram o desafio da OENO, têm visto os seus portfólios crescer, em média, 10 a 15% a cada 12 meses, diz. Claro que tudo depende do portfólio em que apostaram, do valor investido, e do período de tempo escolhido para manter o investimento. "Alguns vinhos, ao fim de um ano, vão crescer 5%, 6% ou 7%, enquanto outros vão crescer 20% ou 25%. A média fica entre 10% a 15%", salienta o gestor. De qualquer forma, se não ficar satisfeito com o retorno, "pode sempre ter o prazer de beber o vinho", acrescenta, em tom de brincadeira, Cláudio Martins, CEO da Martins Wine Advisor, empresa parceira e representante da OENO em Portugal.

Falar em vinhos finos, comparáveis a carros de luxo, joias, antiguidades ou obras de arte pode, contudo, assustar e afastar alguns investidores. No entanto, Michael Doerr, fundador da OENO, acredita que este investimento está ao alcance de qualquer pessoa de classe média. "Diria que há muita gente com muito dinheiro parado no banco, e o banco, infelizmente, não dá nada. Usando empresas como a OENO e fazendo investimentos em vinhos, é uma opção de diversificação e uma possibilidade de conseguir uma maior rentabilidade", reforça Tiago Stattmiller. O gestor acrescenta que, ao perceberem como funciona este mercado, muitos investidores aumentam rapidamente o valor de investimento.

Mas, então, como podemos começar a investir em vinho? Na OENO, o investimento mínimo são cinco mil euros, apesar de Tiago Stattmiller recomendar que, para um portfólio mais equilibrado, a aposta ideal seja de 10 mil euros. Depois, tudo depende dos objetivos e preferências do investidor, e do stock que a OENO tiver no momento, para que seja feito "um fato à medida", porque cada portfólio é único. O segredo está, no entanto, na diversificação. "Posso, por exemplo, incluir champanhe porque é versátil e pode vender-se a qualquer momento - claro que quanto mais anos tem, mais dinheiro faz -, e tentar diversificar a nível de região", explica. Mesmo que os clientes tenham algum tipo de foco, diz, "não basta colocar vinhos de Bordéus, ou só de Borgonha. Recomendo ter sempre um pouco de Napa Valley, nos Estados Unidos, um pouco de vinhos do Chile ou da Austrália".

Por fim, a escolha do prazo é também determinante para o potencial de rentabilidade, à semelhança do que acontece noutros tipos de investimentos. O prazo mais curto são dois anos, podendo o investidor optar ainda por um período de entre três e cinco anos, ou investir a longo prazo, a mais de cinco anos.

Uma das questões que os potenciais investidores mais colocam é, segundo Tiago Stattmiller, como são escolhidos os vinhos que entram no portfólio da OENO. Por um lado, o leque de escolha não é tão amplo quanto possa pensar-se, uma vez que apenas cerca de 1% de toda a produção mundial de vinhos é boa para investir. "Falamos de vinhos finos, de luxo, e com um elevado potencial de valorização", explica o gestor. Por outro lado, a criteriosa seleção é da responsabilidade de Justin Knock, um dos Masters of Wine (a qualificação mais elevada para especialistas em vinho) mais reputados do mundo. Em jeito de brincadeira, o account manager da OENO garante que existem mais astronautas no planeta Terra do que Masters of Wine, que são apenas 419 em todo o mundo.

A equipa chefiada por Justin Knock funciona como uma espécie de "olheiros" (como no futebol), que andam pelo mundo em busca das maiores preciosidades vínicas. Já ao gestor de conta cabe o papel de estar atento às oportunidades que surgem no mercado, tanto de compra e expansão do portfólio, como oportunidades de venda, e manter um acompanhamento permanente de cada cliente. "É muito importante estarmos em cima dos acontecimentos a nível de vinhos, e acompanhar a Liv-ex, a bolsa oficial de vinhos, com sede em Londres", revela Tiago Stattmiller. A qualquer momento, acrescenta, "pode ser vantajoso um cliente vender o seu Dom Perignon a um hotel ou a um colecionador na China que, se calhar, vai pagar um milhão por essa garrafa".

Então, e depois de investir, onde ficam armazenadas as garrafas? Uma questão que inquieta quem ainda não conhece este mundo. No caso da OENO, todo o portfólio está guardado num armazém em Londres, o mesmo onde a rainha Isabel II armazena a sua garrafeira pessoal. O contrato de investimento inclui um seguro que garante que, mesmo em caso de acidente neste espaço, o investidor não perde o seu dinheiro. Portanto, se esperava receber as suas garrafas em casa, desengane-se. Poderá recebê-las, sim, caso a sua opção, findo o prazo de investimento, seja mantê-las para colecionar ou beber.

O interesse demonstrado por alguns investidores nacionais, que procuravam novos produtos para investir, chamou a atenção de Michael Doerr, e da OENO, que entrou diretamente no mercado nacional com o apoio e a parceria da Martins Wine Consulting. "O que muita gente não sabe é que o investimento em vinho é um dos mais antigos do mundo. E, se recuarmos no tempo, encontramos muita gente que ganhou muito dinheiro com vinho", conta o fundador da OENO ao DN. Nove meses depois, Michael está satisfeito com a adesão ao projeto e, para 2022, conta abrir, em Lisboaa, um Wine Bar, que funcionará como ponto de encontro entre investidores, apreciadores, colecionadores e todos quantos partilhem a paixão pelo vinho. "O objetivo será ter à prova vinhos raros, parte do portfólio da OENO, mas também dar a conhecer novos produtores e vinhos", explica.

Mas a entrada em Portugal não abre apenas as portas a novos investidores. O objetivo da OENO passa por integrar vinhos e produtores nacionais no catálogo de investimento. "Portugal continua um mercado muito puro, mas penso que nos próximos cinco anos veremos a procura por vinhos portugueses a crescer exponencialmente", acredita o fundador da OENO.

Para já, Michael Doerr, Tiago Stattmiller e Cláudio Martins não revelam nomes, mas confirmam, no entanto, que "há conversas bem encaminhadas com alguns produtores famosos", diz o CEO da OENO. Já o gestor de contas garante que existem em Portugal vários produtores com vinhos que podem ser considerados de luxo, mas alerta: "Os vinhos podem ser fantásticos, mas se for uma produção muito grande o seu valor vai demorar a crescer".

O segredo, tal como o néctar, continua na esfera dos deuses. Contudo, a verdade é que, mesmo sem confirmação, representantes da Herdade do Rocim e o produtor Dirk Nieeport marcaram presença no Seminário de Investimento que decorreu na capital. Em 2022 saberemos.

Miguel Vieira, empresário ligado a vários setores, mas também ao mundo dos investimentos, foi um dos primeiros investidores nacionais a "descobrir" e a acreditar na OENO. Ao DN revela que procurava investimentos "exclusivos e raros, que possam contribuir para que o meu portfólio de médio prazo traga um retorno financeiro de dois dígitos".

A opção pelo investimento em vinho pareceu-lhe equilibrada, entre o risco de perda associado e o potencial de valorização. Começou apenas este ano, de uma forma estruturada e racional, uma vez que já anteriormente experimentara adquirir vinhos para consumo próprio em que esperava alguns anos para recuperar o "investimento", aproveitando para degustar o produto em datas ou eventos especiais, na companhia de familiares ou de amigos. "Encarei como uma diversificação de portfólio de investimento financeiro, com um nível de risco moderado", explica.
Outra razão que motivou esta aposta foi o histórico do aumento do retorno do investimento em vinhos raros. "Isto significa que cada vez existirá mais dinheiro para reinvestir em vinhos mais raros e únicos, tornando o círculo virtuoso", reforça. Uma tendência que é hoje fácil de acompanhar através dos índices públicos de cotação em mercados como o Reino Unido ou Hong Kong. Por outro lado, acrescenta, "a tendência de aumento da inflação, e o consequente impacto no crescimento das taxas de juro dos bancos centrais, permitirá refugiar capital na aquisição deste tipo de produtos, tornando-os mais atrativos".

Para já, no portfólio, Miguel Vieira conta com vinhos de regiões consagradas como Champagne, Borgonha ou Toscana, no chamado "velho mundo", mas também néctares de Napa Valley, nos Estados Unidos, ou de Maipo Valley, no Chile. As expectativas são, como confessa, elevadas, mas até decidir aumentar as referências para guardar, aproveita para degustar outros vinhos da sua preferência. "A companhia, ou os momentos de celebração, fazem com que tanto possa abrir um Champagne Boerl & Kroff 2002, um Viúva Gomes Colares 1934, ou um Madeira HM Borges 1840".

Questionado sobre o seu vinho de sonho diz: "será aquele que se transforme no meu maior retorno de investimento e que por razões racionais não tenha conseguido provar".

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