Vendedores de bolas-de-berlim vivem com medo das autoridades

Comerciantes admitem que é difícil cumprir as regras sanitárias nas praias.
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Depois da apreensão de 300 quilos de bolos no Algarve, os vendedores ambulantes das praias da Costa de Caparica temem ser os próximos. "Nos próximos dias não venho vender para a praia de certeza, porque um dia destes a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) deve aparecer por aí", assegura Maria, vendedora ambulante de bolos nos areais da Caparica, em Almada. No Sul do País há quem aponte a falta de asseio: "Nota-se a falta de higiene e as ilegalidades na venda de bolas de Berlim nas praias", diz Celestina Alexandra, de 52 anos, há 30 vendedora ambulante na Praia da Rocha (Portimão).


A repentina preocupação destas vendedoras deve-se à apreensão de quatro mil bolas-de-berlim impróprias para consumo realizada a semana passada no Algarve, operação da qual resultou ainda o levantamento de 40 processos de contra-ordenação. "Isto já quase não dá para comer quanto mais para pagar multas", garante Maria, imigrante africana, que não dispõe nem de licença nem de uma mala térmica, como é exigido para o transporte dos bolos.


Preocupada estava também uma outra vendedora que preferiu não se identificar. "Ando com o coração nas mãos, sempre alerta, a ver se a ASAE aparece", contou ao DN. "Não é pelas condições, que essas tenho-as de sobra, mas ando aqui ilegal, porque não me passam licença", desabafa. De facto esta comerciante, que garante palmilhar apenas a praia em frente ao Clube de Campismo do Concelho de Almada - onde até já tem clientes fixos, fruto dos 22 anos de venda ambulante na zona -, parece cumprir as regras de higiene exigidas. Toda vestida de branco, assemelhando-se a uma padeira, transporta os seus bolos, comprados numa pastelaria, numa mala térmica e usa uma pinça para os manusear.


No entanto nem ela nem nenhum outro vendedor da zona têm licença, porque a Polícia Marítima não as dá sem a apresentação do cartão de vendedor ambulante emitido pela autarquia, que se recusa a passá-los por a venda ambulante ser proibida no concelho de Almada.


O transporte dos bolos é outro problema. "Há quem, por uma questão económica, use cestos de verga, latas, sacos, caixas de plástico transparentes ou em esferovite sem quaisquer condições sanitárias. E até sei que existem casas velhas a serem utilizadas como armazéns, onde são fabricados bolos para vender na praia", denuncia Celestina Alexandra.


Nas voltas pelo areal e zonas envolventes - onde apregoa o produto que vende por um euro - além de pinças e guardanapos, utiliza uma mala térmica transparente em fibra e uma carrinha frigorífica, como estipula a legislação. Contudo, está impedida pelas autoridades marítimas de vender bolas de Berlim com creme por lhe faltar um certificado da mala térmica a emitir pelo delegado de Saúde. "A mala térmica e a carrinha frigorífica têm de ser seladas e essa regra, que só me foi comunicada a 15 de Julho pela Capitania, obriga-me a perder muito tempo, o que é complicado nesta época. É a única exigência que ainda não cumpro, pois também a desconhecia", diz.


Até ao momento apenas foram realizadas operações de fiscalização nas praias da Rocha Baixinha e Galé, no Algarve. A fiscalização aos alimentos vendidos nas praias prolongar-se-á no durante todo o Verão e promete chegar a todas as praias do País, diz a ASAE.

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