Venda de alarmes a ourivesarias sobe após três assaltos em 18 dias
Os três assaltos à mão armada a ourivesarias no espaço de 18 dias deixaram o setor muito preocupado e a comprar alarmes. As tentativas de roubo frustradas em Corroios, a 27 de janeiro; em Ponte de Lima, no dia 3 deste mês; e o assalto consumado a uma relojoaria nas Amoreiras, no dia 13, estão a ser investigadas pela Polícia Judiciária, que aponta para grupos diferentes e modos de atuar distintos. Apesar destas situações, a PJ garante que no ano passado a tendência de diminuição deste tipo de assaltos - que se regista desde 2014 - se manteve. Todavia, não adiantou os números finais, frisando que irão constar no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI).
Um dos líderes de mercado do setor da segurança privada, a Prosegur, disse ao DN ter registado, desde o início do ano, "um aumento dos pedidos para instalação de sistemas de alarme de grau três". Segundo um responsável pelo departamento de alarmes da Prosegur, a instalação destes alarmes mais sofisticados "é obrigatória em locais de médio e elevado risco, como é o caso das ourivesarias".
A ourivesaria Matos, em Ponte de Lima, não chegou a ser pilhada pelo grupo de assaltantes, precisamente por causa do sistema de segurança topo de grama que inclui a descida das grades, os vidros à prova de bala e a porta blindada. Os tiros de metralhadora disparados contra as montras não abriram passagem, pelo que o bando desistiu e fugiu do local, como se viu nas imagens de videovigilância divulgadas na altura.
2013 foi o ano, num período recente, com mais roubos registados: 90, segundo o RASI. Na altura o quadro legislativo para o setor foi alterado para obrigar os proprietários a adotar medidas de segurança. Em 2014, houve 46 assaltos e em 2015 foram 29.
Poucos investem em segurança
Mas a loja de Ponte de Lima será um caso de investimento em proteção raro. A visão da Associação de Empresas de Segurança (AES), que representa a Prosegur, a Esegur (também contactada pelo DN mas que não respondeu) e dezenas de outras firmas, é a de que ainda há muito desleixo por parte dos proprietários. "É verdade que, com a revisão de 2013 ao regime jurídico da atividade de segurança privada, passou a ser obrigatório, para as ourivesarias, adotarem determinadas medidas de segurança, designadamente sistema de videovigilância por câmaras de vídeo para captação e gravação de imagens e sistemas de deteção de intrusão. Todavia, continua a haver muitas ourivesarias que não possuem estes sistemas ou então têm-nos instalados mas não os ativam", referiu a AES, em resposta escrita ao DN.
Para aquelas empresas, a "poupança" acaba por sair caro, como tem sido demonstrado pelas notícias", sublinhou a associação. A AES lembra ainda que "o potencial lesivo deste tipo de criminalidade vai muito além do património de quem vê a sua ourivesaria assaltada. Projeta uma imagem de insegurança que afeta todos os cidadãos, com repercussões colaterais no comércio e turismo".
A Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal (AORP), que reúne mais de 470 proprietários, contraria a visão das empresas de segurança. "A maioria já têm instalações protegidas com videovigilância e retardamento de abertura de portas", referiu ao DN Fátima Santos, secretária-geral da AORP. E, se as "antigas empresas ainda questionam a lei, as novas já adotam as medidas sem questionar". Mas "muitos não têm seguro, porque as apólices custam largos milhares de euros".
Também João Carlos Brito, secretário-geral da Associação Portuguesa da Indústria da Ourivesaria (APIO), lembra que "é muito difícil fazer seguros, quer porque não existem no mercado produtos formatados para o setor quer porque são demasiado caros, ou porque ainda existe desconfiança dos empresários, que, quando os contratualizam e sucede algum sinistro, acabam por ter invariavelmente uma indemnização muito inferior ao prejuízo causado. Sabemos que há empresas que por esse motivo nem sequer têm seguro".