Vencedora de 'reality show' consegue unir os iraquianos

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Shada Hassoun transformou-se num símbolo da unidade iraquiana ao vencer, na sexta-feira à noite, a Academia de Estrelas transmitida pela televisão libanesa LBC.

A cantora, de 26 anos, filha de pai iraquiano e mãe marroquina, conseguiu que xiitas, sunitas e curdos esquecessem, por momentos, a violência sectária que assola o Iraque.

Milhões de mensagens de telemóvel foram enviadas para apoiá-la, acabando por levá-la à vitória, frente a três outros finalistas provenientes do Egipto, Líbano e Tunísia.

No momento do triunfo, a cantora, que não conteve as lágrimas, enrolou-se na bandeira branca, vermelha e preta do Iraque. "Eu agradeço a Bagdad e ao Iraque", disse numa entrevista emocionada à televisão iraquiana Al-Sharqiya.

"Quero agradecer aos iraquianos por terem votado em mim. Agradecer-lhes pelo seu amor. Eu sinto-o e sinto que eles estão contentes apesar de tudo aquilo que vivem. O meu sonho era conseguir fazê-los felizes", acrescentou, à CNN, em Beirute.

No Iraque, o anúncio da vitória foi conhecido já depois da meia-noite. Mas nem o recolher obrigatório nem a insegurança impediram os festejos. Na capital, Bagdad, os que não tinham electricidade foram avisados pelos que possuem geradores.

Ouviram-se gritos, aplausos, os tradicionais tiros para o ar. "Eu partilhei a sua alegria e as suas lágrimas. Ela fez toda a gente muito feliz", disse Souad Abid, uma estudante universitária citada pela AFP.

No bairro xiita de Najaf, até os islamitas mais radicais festejaram, apesar de serem contra a música. "Nós saudamos a vitória desta mulher que elevou o nome do Iraque. Com sete milhões de votos vindos da sociedade ela ultrapassou os políticos. Esta vitória une os iraquianos", afirmou o político Sabah Ahmed.

No Curdistão, parte do Norte do Iraque onde há menos violência, muitas pessoas assistiram à final da Academia de Estrelas num ecrã gigante colocado na rua para o efeito, indicou a Al-Jazeera online.

Os curdos celebraram durante horas, exibindo fotografias de Shada Hassoun e buzinando os seus automóveis.

Apesar de ter vivido grande parte da sua vida fora do Iraque, a cantora transformou-se na única distracção dos iraquianos nos últimos quatro meses, ajudando-os a abstraírem-se da violência .

Nesta Academia de Estrelas, concurso que a Endemol e a TVI já transmitiram em Portugal, foram recebidos do Iraque sete milhões de sms de apoio a Shada. As três operadoras de telemóvel tiveram de baixar o preço das sms (de 37,5 para 12, 5 cêntimos de euro), permitindo que os mais pobres votassem.

Ao longo deste concurso da LBC, que disputou com mais 18 candidatos oriundos do Magrebe, do Bahrein, da Arábia Saudita e do Koweit, a cantora que também dança salsa nunca disse se era xiita ou sunita. Assumiu-se apenas como iraquiana.

Aproveitando a sua campanha, o próprio Governo iraquiano ocupou os intervalos da emissão especial feita, na sexta-feira, pela Al-Sharqiya para fazer transmitir um anúncio em que uma mulher vestida com um chador (véu) negro implora a um homem mascarado que não a expulse de casa com a sua família. *Com agências

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