A homofobia é uma atitude que configura uma forma extrema de opressão, já que, por causa da repulsa e /ou medo que constrói em relação aos homossexuais, tenta projectar a ideia dum mundo onde estes não são supostos existir, um mundo exclusivamente heterossexual, ou melhor ainda, heterossexista - um mundo em que só a heterossexualidade é vista como normal e em que a sociedade se organiza partindo do princípio de que todos são heterossexuais. .A homofobia acaba por estruturar uma série de mecanismos sociais e resulta portanto num trabalho activo de invisibilização e até mesmo de destruição de determinados grupos sociais. Isto não porque se acredite de facto que a homossexualidade não existe mas porque o homófobo pensa poder ter o privilégio de estruturar o mundo como se ela não existisse, ou seja, como se nada fosse devido às pessoas homossexuais - devendo estas considerar uma sorte serem toleradas (da mesma forma que se tolera algo que é um mal menor, mas um mal); tolerância esta que é exercida se, e só se, essas pessoas forem absolutamente discretas, ou seja, socialmente invisíveis na sua homossexualidade. Este é portanto um privilégio, um poder, que resulta não do que se conhece, mas do que se, manifesta e intencionalmente, ignora - o que E. K. Sedgwick chamou de privilégio epistemológico de desconhecer..Mais correcto do que falar em homofobia é falar num continuum homófobo, como propôs D. Éribon, continuum que vai das palavras atiradas na rua, "Fufa!", "Paneleiro!", até às implicitamente inscritas na sala de casamento da Conservatória "Interdito a homossexuais.".De facto, a homofobia diz respeito a lésbicas (lesbofobia), gays (gayfobia), bissexuais (bifobia) e transgéneros (transfobia), pois diz respeito à luta contra todos os mecanismos sociais que reproduzem as desigualdades sexuais - entre sexualidades e entre identidades de género..O heterossexismo, enquanto forma de organização social, resultante da homofobia mais ou menos institucionalizada, é um atentado aos direitos humanos, como o são o sexismo e o racismo. Daí fazer todo o sentido que os movimentos homossexuais de todo o mundo lutem junto da ONU pelo reconhecimento do Dia Mundial de Luta contra a Homofobia, cuja primeira data será já o próximo 17 de Maio. Isto porque neste dia do mês, em 1990, a Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais. Esta acção pôs fim a mais de um século de homofobia médica..O homófobo é aquele que não suporta a ideia de uma equivalência de valor, a todos os níveis, entre a homossexualidade e a heterossexualidade, ou seja, aquele que, além de ver uma diferença, vê uma necessária hierarquia, em que à homossexualidade algum defeito (de preferência de fabrico) é sempre atribuído, quando comparada com o modelo referencial..Daí que homófobos sejam muitos discursos religiosos (que insistem na existência duma só natureza humana, a heterossexual), mas também muitos discursos psicológicos (que constroem teorias sobre os problemas de desenvolvimento que levam à homossexualidade) e ainda muitos discursos jurídicos (que reconhecem a diferença homossexual para depois lhe atribuir a subcidadania dos direitos). De todos Portugal está muito bem servido. Mas, para nossa grande vergonha, estamos também servidos das práticas homófobas que estes discursos promovem, como as agressões sistemáticas e meticulosamente organizadas a homossexuais em Vi- seu. Que têm resultado, por parte das autoridades, e ainda para maior vergonha, na ideia de que não há que perguntar a orientação sexual das vítimas, como se tudo se pudesse passar na ignorância desse facto - são, mais uma vez, com certeza heterossexistas e homofóbicos, aqueles que julgam poder ter este privilégio de ignorar.