velho Tarzan passa férias no algarve

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"A celebridade, que escolheu o nosso país para gozar alguns dias de descanso, é o famoso Tarzan, que há cerca de trinta anos enchia a nossa juventude de sonhos de aventuras na selva, sonhos onde havia sempre uma liana pendente, uma bela para salvar e um grito que aterrava todos os habitantes da selva. Sem falar da não menos célebre e cómica macaca Cheeta", noticiava o DN de 22 de Setembro de 1976.

"Johnny Weissmuller [Timisoara (Roménia), 1904 - Acapulco (México), 1984], o inesquecível Tarzan dos filmes dos anos cinquenta, que tanto entusiasmo despertaram - e ainda despertam - passou ontem por Lisboa, a caminho do Algarve, acompanhado pela mulher e dois filhos, para uns dias de férias em casa de amigos [uma família portuguesa, que tem negócios de vinho do Porto]", descrevia o jornal, sem qualquer alusão ao facto do actor que tinha sido baptizado como János Weissmüller e vivia nos EUA desde os sete meses de idade, ter passado a interpretar, nos últimos anos, a série Jim das Selvas.

"Johnny Weissmuller é hoje um senhor de 72 anos, denotando, no entanto, uma excelente forma física, como pôde ser confirmado ontem, quando desceu do avião que o trouxe de Zurique", após ter "terminado uma película", que não se dizia ser Won Ton Ton, de Michael Winner.

"Alguém lembrou ao artista os seus recordes olímpicos, que levaram a considerá-lo o maior nadador da primeira metade deste século. O que não admira, visto que Johnny Weissmuller bateu 67 recordes do Mundo, participou em 52 campeonatos e ganhou cinco medalhas de ouro olímpicas [Paris-1924 e Amsterdão-1928]. Foram estas proezas desportivas que levaram à criação de Tarzan, figura que, afinal, acabaria por imortalizá-lo, guardando o nome de Weissmuller para além do seu próprio tempo."

Até parecia que as peripécias do homem macaco não tinham sido concebidas pelo escritor Edgar Rice Burroughs, que publicou o primeiro dos mais de vinte títulos dos seus romances em 1912. E mesmo o primeiro Tarzan que surgiu nas telas do cinema, logo em 1919, tinha sido interpretado por Elmo Lincoln - embora só no tempo do sonoro se tenham celebrizados os grunhidos e os monossílabos do famoso personagem. Sem contar com as versões em BD que, desde 1929, começaram a ser publicadas em jornais de todo o mundo, inicialmente com o traço de Harold Foster - embora o desenhador de Príncipe Valente não seja o autor do modelo mais famoso, que seria definido, a partir de 1947, por Burne Hogarth.

E num país em que um famoso praticante de wrestling era conhecido como Tarzan Taborda, o actor, embora "pouco expansivo", surpreendia por declarar que "dedica hoje grande carinho e atenção às crianças fisicamente diminuídas", ao ponto de ter oferecido "todas as suas medalhas e troféus, na ordem das muitas centenas", a um centro de tratamento nos Estados Unidos. "Um desejo do nosso visitante deve, no entanto, ficar por satisfazer: é que Weissmuller, fiel ao seu amor pelas crianças, queria visitar um hospital português destinado a pequenitos deficientes mentais. Simplesmente, afora uma ou outra experiência ou iniciativa de pequeno porte, não há um estabelecimento destinado a tratar especificamente essas crianças. Enfim..."

Pouco importava. Afinal, toda a gente identificava aquele vulto como o que teria dito (numa expressão cinematograficamente tão falsa como o "play it again, Sam", de Casablanca), "Me Tarzan, you Jane". E o resto pode ser "confirmado" no livro de memórias da chimpanzé, escrito por James Lever e intitulado Me Cheeta.

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