Varoufakis: "Vamos agitar a Europa, de forma gentil mas firme"
O Volksbühne, o teatro do povo em Berlim, foi o palco escolhido por Yanis Varoufakis para lançar o Movimento para a Democracia na Europa 2025 (DiEM 25). "Vamos agitar a Europa, de forma gentil mas firme", defendeu o ex-ministro das Finanças grego, alegando que ou o continente se democratiza ou "vai desintegrar-se". A apresentação contou com a intervenção do antigo eurodeputado português e fundador do Livre, Rui Tavares.
"Temos de voltar a pôr o demo [povo] na democracia", defendeu Varoufakis, cujo movimento argumenta que só isso assusta verdadeiramente os líderes europeus. "A Europa tem de se democratizar ou vai desintegrar-se. Isto não é uma tática para assustar, é um facto", referiu o ex-ministro do governo de Alexis Tsipras, explicando que a mensagem é dirigida principalmente aos que estão cansados da política, que estão deprimidos e optam por ver reality shows na televisão para tentar esquecer os seus problemas.
O principal impulsionador do DiEM25 promete trabalhar já a partir de hoje pela transparência das instituições europeias, exigindo que as reuniões do Conselho da União Europeia e do Eurogrupo, entre outras, sejam transmitidas em direto. "Hoje, temos cidadãos transparentes e governos opacos. Temos de mudar isto", defendeu Varoufakis. Maior transparência é apenas um dos pontos do manifesto do movimento, que quer também uma assembleia constituinte para elaborar uma Constituição que vai acabar com todos os tratados europeus.
Varoufakis repetiu ainda os quatro princípios do manifesto: nenhum europeu será livre enquanto a democracia de outro for violada; nenhum europeu pode viver com dignidade enquanto a dignidade de outro for negada; nenhum europeu pode desejar prosperidade se outro for forçado a uma insolvência e depressão permanentes; nenhum europeu pode crescer sem bens básicos para os cidadãos mais frágeis.
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Horas antes da apresentação oficial do DiEM25, Varoufakis apresentou o movimento aos jornalistas. O ex-ministro aproveitou essa oportunidade para criticar "o fracasso espetacular" dos 28 Estados membros da UE "para lidar com a crise de refugiados de uma forma sensível, racional e humanista". A única exceção tem sido a chanceler alemã, Angela Merkel, admitiu Varoufakis, esquecendo os confrontos que teve com ela durante o tempo em que liderou os frágeis cofres públicos da Grécia. Varoufakis deixou o governo grego em julho, em desacordo com o terceiro resgate.
Para o porta-voz do DiEM25, a solução para gerir a chegada à Europa de centenas de refugiados "não é construir muros" ou "campos de concentração". Segundo Varoufakis, "o arame farpado e os muros refletem a insegurança e não fazem mais do que espalhar a insegurança".
Convidados
Rui Tavares foi um dos convidados da apresentação do movimento de Varoufakis, que contou também com intervenções gravadas da presidente da Câmara de Barcelona, Ada Colau, ou em direto de Julian Assange, fundador da WikiLeaks que está refugiado na embaixada equatoriana de Londres.
O antigo eurodeputado português questionou o facto de o Parlamento europeu ser o único do mundo sem capacidade de legislar, lembrando que mesmo quando tem essa oportunidade pode ser travado pelo Conselho Europeu. "Ninguém elegeu o Conselho Europeu, estamos presos a pessoas que ninguém elegeu", defendeu, criticando também os que falam em Itália, Grécia ou Espanha como países periféricos. "Chamar-lhes periféricos significa dizer que não há nada para lá do Mediterrâneo. E isso é errado", argumentou.
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Rui Tavares defendeu que na Europa existe o que é preciso para mudar as coisas: memória, imaginação e coragem. E lembrou que tem de haver uma responsabilidade moral para dizer o que não é aceitável: "Somos os que não aceitam."